Ainda hoje foi assim: a manhã foi ao ar porque havia consulta de oftalmologia dos miúdos, a tarde foi ao ar porque entretanto o Mi voltou a ter febre - e lá fui eu recambiada para casa depois de uns gloriosos 70 minutos, vá, de computador.

Toca a mim esta disponibilidade, faz parte das minhas atribuições na nossa família e eu estou pacificada com isto. Se quando eles eram bebés era uma benção, agora é fruta da época, lá vou eu e já me habituei a não dar como garantido que faço tudo o que planeei para cada dia. E a tirar as consequências financeiras disso, sem culpa.

Racionalizei que prefiro dar um valor emocional e financeiro a esta disponibilidade do que martirizar-me ou frustrar-me com o facto de eu deixar constantemente o trabalho pendurado ter um impacto na minha produção de capital. O meu capital é a mãe estar sempre presente quando é preciso, é ser quem faz todos os recados, é o que poupamos em ATL, em empregadas a tempo inteiro, em chatices no trabalho, em desgaste na relação. Toca a mim e eu tenho muita sorte em ter essa disponibilidade. 

A maior parte das mulheres portuguesas não tem essa disponibilidade. A maior parte das mulheres portuguesas, sobretudo se são mães, andam estoiradas, assoberbadas, carregam o mundo às costas e ainda têm de prestar contas pelo rendimento mais baixo.

O resultado do estudo sobre as mulheres portuguesas agora revelado não vem trazer nada de novo nas conclusões, mas os números tão altos, tão claros, são sempre difíceis de engolir. A mulher portuguesa trabalha demais, tem responsabilidades extra-trabalho a mais e é valorizada ou recompensada a menos por ser a super mulher que é. 

Em Outubro de 2017 já eu pensava assim e as coisas não mudaram. Eu luto aqui no eumae.pt e no eu,mulher pela auto-valorização, pelo auto-cuidado, auto-mimo que não podemos esquecer de nos dar, porque tempo para nós próprias está à vista que é escasso e muitas vezes esquecemo-nos de valorizar o que podemos e merecemos fazer com ele.

Temos de nos cuidar. Temos de nos alimentar bem, exercitar melhor, descansar e desanuviar a mente, encontrar o tempo e espaço para voar para longe de preocupações e todas as coisas que carregamos às costas. Nós contamos.