Ser mãe de rapazes é uma trabalheira. E um perigo para a vida. Uma mãe de rapariga pode morrer de repente, se um piano lhe cair em cima da cabeça. Uma mãe de rapazes todos os dias morre de ataque cardíaco! Ou o mais velho parte a cabeça, ou o mais novo quase parte o queixo, ou o mais velho faz equilibrismo na gaveta da comoda, ou o mais velho investiga se fritar numa tomada aquece a alma ou apenas tosta a pele. As tropelias são a la carte, e os miúdos são gourmet, só se saem com as mais aparatosas.

Todos os dias eles põem à prova o velhinho e sábio "ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo" e todos os dias o meu coração é posto à prova, aguenta coração! E haja mãos - minhas, de Deus, de quem estiver por perto. 

Deve ser por isso que os soldados em guerra tatuam invariavelmente o "amor de mãe". É a mais visível e permanente compensação pelo culminar de angústia, susto e temor permanente. Ver um filho ir para a guerra é para a mãe o expoente máximo de todos os perigos que todos os dias assaltaram os seus dias de mãe de rapaz. Porque todos os dias ela correu o risco de ver o filho partir-se todo. Não foi apenas aos vinte anos que começou a andar com o credo na boca por conta da vida do filho, foi por volta dos 15 meses.  Dos 10, pronto!

Então ter dois filhos rapazes é um dizer mata e o outro dizer esfola, e eles estão a falar a sério, não ha cá figuras de estilo! E se o mais velho vai ficando cada vez mais maluco à medida que cresce, o mais novo leva-lhe já um bom avanço! Nasceu maluco e vai para doido varrido! Tipo diabo da Tasmania.aguenta coração, que fui eu queM quis ter dois rapazes, cá está o meu desejo concretizado. 

 Os meus miudos são o mapa dos seus próprios infortúnios, têm a pele que parece uma caça ao tesouro, entre arranhões, nódoas negras, crostas e muita sujidade parda. E ao fim do dia, lavo com savão e abraços os despojos do dia e agradeço os arranhões de pura alegria e nada mais que arranhões. Por hoje!