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Filhos

Desaparecido(s)

Por Inês

Hoje (30 de Agosto), assinala-se o Dia Internacional do Desaparecido. É o dia em que a Cruz Vermelha chama a atenção para o destino das pessoas desaparecidas como resultado de conflitos armados ou desastres naturais e as vidas das famílias que lidam com a incerteza de não saber se os seus entes queridos estão vivos ou mortos. Algumas famílias vivem décadas na incerteza. Especificamente dedicado às crianças desaparecidas, assinala-se o 25 de Maio.

São dias em que mais uma vez se veicula pelas televisões e internet as fotografias e dados de pessoas desaparecidas, seja qual for a forma de desaparecimento ou a suspeita que se tem quanto ao destino.

Desde que fui mãe, este tem sido mais um terror na minha vida sempre que o assunto vem à baila. É um aperto no coração, uma angústia enorme só de imaginar que o que se ouve relativamente a tráfico de humanos, ou alguma fatalidade do destino, possa acontecer ao nosso filho, à nossa família. O desaparecimento é uma enorme incógnita e pode ser fatal para quem é raptado, mas também o é para quem fica para trás. Para quem vê a sua vida devastada por aquele momento em que tudo mudou, em que a vida ficou em suspenso, em que de repente se mergulha na angústia de não saber onde está o nosso filho, o que lhe estará a acontecer, onde e com quem estará. É horrível imaginar, não dá sequer para alcançar o que poderá ser vivê-lo.

Já me aconteceu duas vezes perder de vista o Pedro e foi logo um mergulho no abismo ao mesmo tempo que todos os sentidos ficam em alerta. Ficamos a ver duas vezes mais longe, a correr tudo com o olhar, a andar de um lado para o outro, por um lado sem nos querermos afastar de onde estávamos, por outro a querer correr numa direção que nos pareça a certa. Uma vez no supermercado, outra na praia. Momentos depois, tinha o meu menino de volta e as emoções todas as desabar, apenas aquele era o momento para chorar, para desesperar, para pôr cá fora os momentos de terror em forma de lágrimas, abraços e juras de que nunca mais se afastaria.

São coisas que acontecem, dizem, faz parte de ser criança e faz parte de sermos pais. Eu perdi-me tantas vezes em miúda, o mesmo já aconteceu a mim enquanto mãe. Mas nada há de normal nisto, se se continuar desaparecido, só essa possibilidade tira-nos o sangue.

No ano passado apanhámos um valente susto no último dia no Porto Santo, pura coincidência este ano apanhámos outro, também no último dia de férias no Porto Santo. Pontaria!! O Pedro tinha desaparecido. Desta vez não foi comigo, foi com o pai, quando eu soube já ele estava sumido há quase meia hora e eu fiquei sem pingo de sangue! Algures entre a praia e o hotel, ninguém sabia ao certo por onde teria ido. Faltava bater o lado esquerdo da praia e eu desatei a correr nessa direcção. Passei por algumas pessoas e perguntei se teriam visto um menino assim e assim e de repente vi, muito ao fundo, como uma formiguinha, dois vultos de adultos e um mais pequenino no meio, com um ponto vermelho. Era ele! Eu mal via os pontos, mas era ele, eu tinha a certeza. Desatei a correr e era mesmo o meu menino, trazido por duas senhoras que o viram a chorar sozinho e ficaram alarmadas. Acabou com todas nós a chorar e o Pedro encolhido, entre o susto de se ter perdido e o medo de se ter metido em sarilhos por ter deambulado sozinho pela praia. Tinha avançado num instante mais de 1 km, estava já longe do hotel. Foi o alívio recuperá-lo, para todos!

Sorte a nossa que isto se passou numa ilha pequena, com a praia quase deserta, com as gentes boas do Porto Santo. Nem quero imaginar se tivesse sido em pleno Algarve, por exemoplo (onde vi uma mãe a chorar baba e ranho depois de encontrar a filha mais ou menos da idade do Miguel - o terror em mim mais uma vez, também chorei, claro!).

As senhoras que encontraram o Pedro disseram que ele portou-se muito bem, disse o seu nome completo, o dos pais e onde estava hospedado. Por outro lado, seguiu as nossas recomendações, falou com senhoras que se pareciam com a mãe ou as avós.

Temos ensinado ao Pedro algumas indicações de segurança:

  • nunca se afastar sozinho dos adultos (fail...);
  • não falar com estranhos e nunca ir com outras crianças ou adultos para sítios onde os pais não os possam ver;
  • saber o nome completo e o dos pais, saber a morada de cor e o telemóvel dos pais

Caso se perca:

  • procurar um polícia ou alguém fardado
  • ou então mulheres que se pareçam com a mãe ou a avó
  • não chorar e parar de andar para não se afastar mais
  • não ter vergonha ou medo de gritar e fugir se ele achar que alguém lhe quer fazer mal ou levá-lo para longe em vez de ajudar a procurar os pais. 

Este ano não o fizemos, mas entretanto já tenho as pulseiras do Programa Estou Aqui de segurança da PSP, que dura até final de Setembro, sempre é mais um mês de mais uma medida de segurança. 

Consultei a Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas e aqui ficam as suas recomendações:

1 - Em caso de desaparecimento: Não espere para participar o desaparecimento. É errada a informação de que tem que esperar 48 horas para fazer a participação.
A comunicação do desaparecimento às autoridades deve ser feita imediatamente após se terem frustrado as tentativas de localização baseadas nas rotinas pessoais, quer de locais frequentados, quer de horários habituais.

- Uma relação próxima com os seus filhos é importante e, falar com eles sobre os perigos de uma má utilização da internet, também. 

Para ensinar às Crianças

Nome, número de telefone e morada;
Saber usar o telefone;
Quem podem visitar quando você não está ( ex: vizinhos, casa dos avós, primos);
Onde podem ir na vizinhança;
Não abrir a porta a ninguém, salvo se os pais lhe disserem para o fazer num determinado momento;
Não dizer a ninguém que estão sozinhos em casa;
Ensinar o que fazer numa emergência, como contactá-lo a si, a vizinhos ou familiares ( telefone do trabalho e telemóvel);
Ensinar a detectar uma situação de perigo: a) Sempre que se sintam ameaçados ou receosos com a presença de alguém ensine-os a dizer NÃO e a gritarem algo como “ Socorro, este não é o meu pai”; b) A fugirem de imediato da situação; c) A denunciarem-lhe imediatamente o ocorrido.
Ensinar que não podem aproximar-se de veículos ocupados ou não, salvo acompanhados pelos pais ou por outros adultos de confiança.
Ensinar a criança a não se aproximar de piscinas, rios, lagos ou poços sem que esteja acompanhada por um adulto de confiança;
Assegure-se de impor regras para os seus filhos brincarem na rua. Não os deixe sem vigilância. Se por exemplo brincam no quintal, tenha a janela aberta para os ouvir e feche o portão á chave.

Vi aqui a lista de crianças actualmente desaparecidas e o que me traz alguma segurança enquanto mãe (mesmo que ilusória - aqui fica a lista da PJ) vem do facto de neste momento as crianças registadas desaparecidas com menos de 18 anos serem relativamente poucas, por um lado, e as que o estão serem quase todas vítimas de disputas entre os pais ou vítimas de circunstâncias muito específicas. O drama destas crianças e mães ou pais é enorme, sem dúvida, mas ao menos sabe-se a quem procurar, o que em princípio lhes aconteceu, porque é que desapareceram, não foi uma fatalidade aleatória, fruto de rapto oportunista ou de "se perder", foi algo muito circunstancial, da história daquela família. 

Não sei se é por Portugal ser o 5º país mais pacífico do mundo (seguramente este é um dos indicadores que faz de Portugal um dos países mais seguros do mundo), se é do extra cuidado que faz dos portugueses pais galinhas, classicamente mediterrânicos, que não largam os filhos nem por nada, mas é bom saber que apesar deste tipo de fatalidades poder acontecer ao virar da esquina, não tem acontecido. 

Enquanto pais nesta corda bamba que é a nossa vida, resta-nos ter cuidado, ao mesmo tempo que não entramos em paranóia - este exercício constante entre deixar ir, deixar fazer, deixar aprender a fazer coisas sozinho e ao mesmo tempo querer proteger - , ensinar e meter na cabeça deles regras de segurança e acreditar que a vida é para viver livre e solto, mas com uma boa rede por baixo...

 

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