A minha filha de dois anos e meio raramente me responde à primeira e muitas vezes ignora quando a chamo ou preciso de levantar a voz para que faça o que lhe peço. Como conseguir que me responda a primeira/faça o que lhe peça a primeira?
A partir do momento em que a criança começa a ter alguma autonomia [fase do gatinhar], o mundo torna-se um lugar ainda mais interessante. A fase em que a sua filha está é muito intensa: ela já fala, está a cada dia mais independente e pensa que pode tudo: subir e saltar nos sofás, levar a secção dos brinquedos para casa, ajudar-nos a descascar as maças com aquela faca afiada, ir vestida de Branca de Neve para a escola ou comer um gelado ao pequeno almoço. As regras, tal como nós as conhecemos são um detalhe que os miúdos não conhecem e não entendem. Eles têm a vida deles, as ideias deles, os seus projectos. Daí ser tão importante explicar o motivo e os porquês – afinal, ninguém nasce ensinado. Posto isto, e indo directamente à sua questão, é preciso entender porque é que eles não nos respondem à primeira:
Por vários motivos:
1) Estão no mundo deles, a fazer as suas vidas e pode acontecer, em determinadas situações, que não oiçam mesmo;
2) Não conhecem as nossas prioridades: ir para a mesa, arrumar os brinquedos ou, simplesmente conversar;
3) Sabem que muitas vezes a mãe chama mas depois não volta a chamar;
4) Sabem que a mãe conta até 3 antes de chamar mesmo a sério.
Como dar a volta:
1) Por muito que lhe possa custar, não chama da cozinha a sua filha que está na sala. Se deseja que de facto ela a escute, vá até ela e diga-lhe o que precisa. Se precisa que ela vá consigo para lhe dar banho, então vá buscá-la. Pela mão. E agora pergunta: mas porque é que ela não vem, simplesmente? Porque o que lhe interessa fazer, naquele momento, é brincar. O banho é a sua prioridade. Não é a dela. Não veja isto como um jogo de poderes porque não é. É a sua filha a tratar da vida dela, tal como nós tratamos da nossa.
2) Demora mais tempo, cria mais tensão chamar ‘Olíviaaaaaa’ do que ir lá buscá-la. Por outro lado, quando chega ao pé dela e lhe diz: ‘Deixa-me ver… estás a colorir esse circulo de azul... ‘ e se interessa por aquilo que ela está a fazer, pode ter a garantia que ela vai escutá-la. Na verdade, as crianças escutam-nos quando se sentem tidas e achadas por nós. Andamos sempre a queixar-nos que não temos tempo de qualidade para os miúdos e o que fazemos é desperdiçar momentos extraordinários de vínculo, como este que aqui exemplifico.
3) Vá ao pé dela, sempre que precisar de chamá-la. Isso vai mostrar-lhe que quando a mãe fala, tem coisas importantes a dizer. E isso significa que em pouco tempo, sempre que a mãe disser alguma coisa, ela vai estar à escuta porque se habituou a que a mãe lhe fale ‘a sério’ – e não é com cara de séria – é antes ter coisas para dizer, que fazem sentido.
4) Finalmente, não seja chata. Nós temos uma tendência natural em sermos chatas, em chamar e dizer pouco. Possivelmente ralhamos muito. A minha sugestão é que possa criar oportunidades para o sim, momentos com significado e valor. E estes momentos são criados nos pequenos detalhes, quando vamos ter com eles, lhes pomos a mão em cima do ombro, olhamos para o que estão a fazer… nesse momento cria-se conexão entre pais e filhos. E é justamente aí que eles vão estar disponíveis para nos escutar.
5) Nota: escutar os pais ou escutar os filhos não significa aceitar pedidos. Isso é outra história muito diferente.
Espero ter ajudado. Depois conte como está a ser!
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Fotografia: Dreamaker photography
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2 comentário(s)
Gostei bastante deste artigo, esclarecedor e completo. A construção da personalidade dos nossos filhos começa na relação que temos com eles. um beijinho Lia http://opsidascoisas.blogspot.pt/
Adorei o artigo! Já conheço algumas "dicas" preciosas da Magda e mais uma vez daqui retiro informação tão simples mas tão precisosa! Quantas vezes o "problema" está nos adultos e na sua forma de lidar com as situações, e não nas crianças? Pois é... Susana
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