Estou numa fase estranha. A fase do não gostar de ninguém. Não há borboletas, o que é uma chatice. Mas também não há sofrimento, o que é bastante agradável e sereno.
Mas não gosto! Vivo de emoções. Gosto de sentir! Nem que seja dor. Não para carpir. Apenas para sentir qualquer coisa. Entreter a cabeça!
Isto de não esperar por ninguém, não olhar para o telefone, não sonhar acordada dá-me tédio!
Não reler as mensagens, não abrir mil vezes a fotografia dele, não mandar mensagem de boa noite nem receber mensagem de bom dia...
Gosto de gostar, gosto de esperar, gosto de sentir. Apetecia-me uma paixão nova! Apetecia-me conhecer alguém. Perguntar-lhe se gosta do trabalho, descobrir se gosta mais de vinho ou de cerveja ou se gosta de leite ou de futebol. Discutir clubismos, conhecer os amigos, apresentar-lhe os meus. Gastar uma noite inteira à mesa com assunto para um século. Beber uma garrafa de vinho e pedir mais uma porque a conversa está boa.
Que faltinha de graça que a vida tem quando não gostamos de ninguém. Não sei se é o mote da vida de qualquer pessoa ou se sou eu que gosto de gostar! Gosto de fazer surpresas. Gosto de dizer que gosto. Gosto de conversar, de descobrir. Gosto de abraçar e de dar a mão. Gosto de dar beijos e de receber mimos. Aquela sensação boa de saber que está uma pessoa a pensar em ti e à tua espera.
Que falta de graça não se ter a quem achar graça. Que grande maçada não se ter a quem amar. Que enorme chatice não se ter por quem esperar. E que tão grande marasmo não se ter por quem olhar.
Nem tão pouco com quem discutir.
Gostava que gostasses de mim, mas sobretudo, gostava de gostar de ti! Gostava de descobrir como és, de conhecer o teu cheiro de ouvir a tua voz pela primeira vez. Gostava de olhar as tuas mãos, topar os teus tiques ou implicar com a forma como dizes uma palavra qualquer. Gostava de saber que viagens fizeste, porque tiraste aquele curso ou porque te dás melhor com um irmão do que com outro. Gostava de saber como foste parar à empresa e de descobrir como se chamava a tua primeira namorada ou o teu cão. Gostava que existisses em mim. Que entrasses por aqui, que te sentasses e que me desses a tua luz. Gostava que te entregasses. Gostava que falasses e que contasses. Que partilhasses e que perguntasses. Gostava de te conhecer! Amanhã gostava de gostar de ti!