Ele é o nó no meu cabelo.

O verniz lascado na minha unha,

as olheiras no meu rosto.

Ele é o brinquedo na gaveta da roupa,

o amassado nas páginas do meu livro,

o rasgado no meu caderno de anotações.

Ele é o pegajoso no comando,

o canal de televisão,

o filme no DVD.

Ele é as migalhas no sofá,

as tesouras afastadas.

Ele é o backup no computador,

o rato escondido, 

as cadeiras longe das janelas.

Ele é a marca de mão nos móveis,

as dedadas nos vidros,

o desfiado nos tecidos.

Ele é o aquecedor desligado,

a porta da casa de banho aberta,

a gaveta da cómoda remexida.

Ele é o coque na minha cabeça,

o amarrotado nas roupas,

as frutas fora da fruteira,

os individuais a voar da mesa.

Ele é o champo cheio de água,

a espuma no chão da casa-de-banho,

o brinquedo dentro da retrete.

Ele é o interruptor nas tomadas.

Ele é o peixe no aquário,

a árvore de Natal,

os "pisca-pisca" de todas as casas.

Ele é o círculo, o susto.

A primeira visão da lua ao início da noite.

O valor do trabalho,a vontade de aprender,

a minha força,

a minha fraqueza,

a minha riqueza.

Ele é o aperto no meu peito diante de uma escada,

a ausência de sono diante de uma febre.

Ele é o meu impulso, o meu reflexo, a minha velocidade.

O cheirinho da minha almofada,

o barulho, 

a metade, 

o azul.

Ele é o vazio triste no silêncio de dormir,

o meu sono leve durante a noite.

Ele é o meu ouvido apurado enquanto durmo.

A minha pressa de levantar da cama,

a minha espera de bom dia.

Ele é o arrepio quando me chama,

a paz quando me abraça,

a emoção quando me olha.

Ele é o meu cuidado, a minha fé,

o meu interesse pela vida,

a minha admiração pelas crianças,

o meu respeito pelas pessoas,

o meu amor por Deus.

É o meu ontem, 

o meu hoje,

o meu amanhã.

Ele é a vontade,

a inspiração,

a poesia.

A lição, o dever.

Ele é a presença, a surpresa,

a esperança.

A minha dedicação.

A minha oração.

A minha gratidão.

O meu amor mais puro e bonito.

A minha vida.

Por uma mãe (autora desconhecida)