Às vezes estamos aflitos. Precisamos mesmo de parar, sair, correr. Nasce uma inquietação do fundo do ser, e a actividade mais serena e reconfortante, se não puder ser suspensa, torna-se, num ápice, um impaciente incómodo. Poupando nas palavras e nos modos: mijaneira. Aplicada a um miúdo de 3 anos, podemos especificar. Mijaneira do catano.
Primeiro vem o dogma. É o rapaz? O pai está presente? É o pai quem leva. O miúdo não vai à casa-de-banho das meninas porque, lá está, é rapaz. Não é por nada, é apenas a ordem natural das coisas. Mas esqueçamos, por momentos, os miúdos de 3 anos. Pensem num pai masculino e espadaúdo como eu próprio. Teria ele, ao entrar, a oportunidade de ver as vergonhas das mulheres que lá estivessem? A minha mulher, e as suas amigas, asseguram-me que não existem urinóis nas casas-de-banho das senhoras. Por inconveniência anatómica, garantem-me. Assim, que eu saiba, só os machos dos homens é que sacam do pilau, ali, em fila, ao lado uns dos outros. Percebem o ponto de vista? Adiante.
Depois vem a oportunidade. Sim, o lugar-comum da cena em que todos estão dentro do carro, prontos para sair, e o júnior diz “quero fazer xixi…”. Mas nunca ninguém avisou para o óbvio que vem a seguir. É que se estiverem numa estação de serviço algures, é à casa-de-banho de lá que têm de ir. Que, em regra, é como a da cena do trainspotting, em que o Mark Renton perde o supositório de ópio. E se for num hipermercado, ou outra grande superfície, já experimentaram? Estão na secção de congelados, cheios de cenas no carrinho, e o puto larga o seu “quero fazer xixi…”. Dou-vos meia-hora. Ainda não encontraram a casa-de-banho? Pois é, por uma qualquer razão cósmica, a malta definitivamente não vai à casa-de-banho quando vai fazer as compras da semana.
E a coisa tem um twist. É que o puto não afirma apenas “quero fazer xixi…” É um lamento, um queixume, há um tom de fatalidade naquelas palavras, como se ele também soubesse que a coisa é inexorável, e que não vai ser fácil. O olhar, apreensivo, e a palavra xixi prolongando-se, como que a ilustrar o que aí vem. E a urgência surge, diante dos nossos olhos, de pantufas, na forma como segura na braguilha, ou como tende a entrelaçar as pernas. A insistência. “Quero fazer xixi…” Como quem diz: You've got 9 seconds; 8 seconds; 7 seconds. E vocês lembram-se da última vez em que o puto mijou nas calças, a mancha escura descendo a perna, até pingar no encerado da tia Lurdes. “Ai que disparate, ele nunca faz isto…”.
Se ainda assim conseguiram romper pela multidão, se desencantaram aquele café logo ali, se chegaram ainda secos, falta sobreviver à lojinha de horrores. A casa-de-banho é um sítio giro, portanto, há que tocar. Passarinhar na zona do agrião, onde fica o molhado das pilas sacudidas. O urinol, desenhado para estar à altura da cabeça de um puto de 3 anos. Que daquela vez, apesar do orgulho de já mijar de pé, quer fazer sentado, tal e qual como faz em casa, mas que ali tem de ser naquela sanita hedionda. E já tocou outra vez. E outra. E depois das cuecas levantadas, as calças levantadas, depois de tocar aqui e ali novamente, tudo pronto, mais ou menos limpo, já prestes a evadir-nos,
“papá, também quero fazer cocó”.
P.S.: Um conselho? A casa-de-banho dos deficientes, se houver. É à escala, e em regra muito mais limpa. E não digam que vão daqui.
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