Há uns dias o meu marido enviou-me este artigo sobre a modelo sueca Sofia Lindfors, que sai na capa de uma revista de maternidade sueca com as duas filhas pequenas. Em bikini, com a barriga que duas gravidezes e cesarianas lhe deixaram, com pregas e pele a mais. Pronta para a praia, no seu bikini body.
É uma capa que contrasta imenso não só com as capas de revistas femininas habituais, em que já sabemos que as modelos aparecem esticadinhas e sempre lindas, mas também com as capas que já vamos vendo de mães com filhos, em que as mães (modelos ou não, sempre lindas) aparecem com corpos de modelo, ou styling de modelo, resultando sempre numa imagem de perfeição. Esta capa mostra uma barriga cheia de pregas e peles soltas, uma barriga logo apelidada de "real". Não sei se foi a primeira capa assim, mas foi a primeira que eu vi, está a causar sensação e está de parabéns! Por mostrar a sua barriga de maternidade com orgulho, seja ela como for, e por ser modelo e não se deixar abater pelos padrões impostos pela sua profissão e pelos padrões esperados pela sociedade em geral. Marca a diferença.
Mas será "real", como agora tanto gostam de dizer?
Eu pessoalmente gosto dessas capas "irreais", acho-as bonitas, perfeitas de se olhar, mas elas não me impressionam. Ver uma modelo com barriga impecável numa capa de revista, tenha sido ou não mãe, não me faz sentir mal. Nunca fez, lembram-se da Irina? É o corpo de outra mulher que não o meu, que antes de ser mãe já tinha um corpo muito diferente do meu.
Eu fico desmoralizada, não com a imagem das outras pessoas numa revista photoshopada, mas sim quando o meu rabo não entra numas calças nas quais entrava 10 meses antes. A comparação do meu corpo consigo próprio é que me desmoraliza ou deixa esfuziante, essa é que é essa! Porque sim, o meu corpo é importante para mim, enquanto máquina perfeita que carrega a minha alma e o seu estado reflecte-se no meu espírito. E eu faço o que posso e me apetece para mantê-lo forte, são e bonito, aos meus olhos. Agora, as outras pessoas? São as outras pessoas. Podem ser bons exemplos de força de vontade, de disciplina, de genética, de bom estúdio ou boa mão no photoshop. O que me interessa é o meu espelho.
Voltando à capa da Sofia com a sua barriga imperfeita. Mais uma vez, é de saudar a diferença, a novidade na capa. Mas será uma bandeira? Será corajosa? Será uma mulher "real"?
Eu andei uns dias com esta capa na mão porque na verdade não estava com grande pachorra para me pronunciar quanto a ela. Já estou agastada com barrigas "reais" e corpos "reais". Como residente de carteirnha do Instagram, tem-me passado pelo feed nas últimas semanas muita conversa e fotos sobre estas questões, sobre aceitação e sobre o que são ou não corpos "reais".
O que é um corpo "real"? Um corpo com imperfeições à vista? Um corpo sem photoshop? Um corpo com curvas? Então, mas curvas não temos todas? Então e os outros corpos, os que se mostram bem vestidos, ou fotografados com boa luz, bons filtros? Não são reais porque estão filtrados? E aqueles corpos que estão em óptima forma, sim, que têm a pele esticada, sim, que vencem, por genética ou esforço, a prova do algodão da luz directa, não são reais? Não são pessoas?
A Sofia mostra a sua barriga com rugas, mas e o resto da foto? Não é perfeita? A pele não está estranhamente lisa e com um tom irreal? Não há nesta foto filtros, styling, maquilhagem, luzes? Afinal, o que é "real" nesta foto?
E o que é "real" e "imperfeito" para uns, pode não ser para outros. Veja-se esta publicação da outra modelo Candice Swanople:
Ela diz que o seu corpo de 12 dias pós parto é orgulhosamente imperfeito e com barriga. Hello?! Este é o corpo dela 12 dias depois de parir e ela sente que tem de se defender do que a imprensa maldosa diz sobre a sua "barriga"? Que barriga há para defender? Ela sente-se orgulhosa da sua barriga, diz que é uma pessoa normal, enquanto a mãe do lado pode achar insultuoso ela dizer que aquela é uma barriga saliente, normal de 12 dias!
Todos os corpos são reais. Todos. Enquanto não forem hologramas, são reais, por muito filtrados que sejam.
As mulheres reais a valer, sejam altas, baixas, magras, gordas, com a pele enrugada ou esticada, NUNCA estão no instagram. Nem nas capas de revista, por muito enrugada que a sua barriga seja. Estão na vida real. Uma fotografia de instagram NUNCA deve ser levada demasiado a sério, mesmo que seja nua e crua. Há sempre uma intenção por trás, há sempre uma mensagem que se quer passar. É sempre uma imagem, tem impacto, mas a nossa realidade é o nosso espelho. Isso sim é real.
Todos os corpos são diferentes, isso é que não podemos esquecer. E isso é que devemos celebrar e difundir. Eu não sou apologista dos corpos reais, eu sou apologista dos corpos diferentes uns dos outros, todos com tempo de antena e aceitação.
A diversidade é que é o mais importante, nos corpos e na vida. Porque assim como há corpos diferentes, há estilos de vida diferentes, há opiniões diferentes, há maternidades diferentes. Nada é igual de uma pessoa para a outra, e quanto mais diversidade nós virmos por aí a passear, a mostrar-se, mais diversidade aceitamos como normal.
Deixa de haver distinção entre corpos reais ou não, vão ser corpos e imagens diferentes, apenas isso. Revermo-nos mais vezes em imagens que vemos por aí é fantástico, eu tenho a barriga da Sofia (e já a mostrei assim há anos...) e é bom ver que não estou só, apesar de já saber há muito tempo que não estava. Somos muitas mães com a pele da barriga irremediavelmente flácida. É a vida.
E, no final de contas, o único corpo que interessa é o nosso. Nós devemos olhar para nós, sem filtros.
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1 comentário(s)
Tão bem dito Inês, obrigada Era mesmo o que eu precisava de ler e também não gosto de ouvir falar em corpos reais e maternidade real! Beijinhos e continua adoro o teu blog, és a minha blogger preferida!
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