“Ora muito bom dia! Como tem passado a família T?” Um chavão inicial para dar partida a mais uma consulta! Enquanto médico de família tenho o privilégio de acompanhar o bebé mesmo antes de nascer, desde que são ainda um projeto concebido pelos pais, até à idade que deus, o homem e o ministério da saúde permitir! Sobre as consultas pré-concecionais podemos falar mais á frente. A tónica de hoje incidirá sobre os modelitos maternos usados nas consultas de saúde infantil. Modelitos?! Sim, uma espécie de “roupa” que as mães vestem para irem com as suas crias às consultas de Saúde Infantil. Um tipo de passerelle de alta-costura. Sabendo que muitas vestem aqueles modelitos apenas para consultas, outras optam por usá-los mais vezes e noutros ambientes sociais. No entanto, um ponto é assente! A natureza de mãe está (quase) sempre presente! Aquele instinto forte, defensor, do qual sou manifesto apreciador! E assumo-o que não há pai que se iguale! Mas bom, voltando aos modelitos…. Passo a apresentar os dez finalistas da alta-postura…
- Doce e Gaba a Ana – um modelo que assenta bem em muitas mães. A mãe que chega ao consultório e no primeiro minuto de consulta inicia, de um modo muito doce e fofo, a revelação de todas a potencialidades da sua cria “a Ana já recicla”, “a Ana já fala inglês”, “a Ana foi a melhor da turma”. Um orgulho imensurável que domina o registo clinico.
- Carolina Erra – muito tendência nos últimos anos! Um estilo que transmite uma clara delegação de competências! A culpa é sempre da pobre cria Carolina. “eu digo-lhe para ela lavar os dentes, mas ela esquece-se” e timidamente o dr responde “sim mãe, mas ela tem apenas 2 anos!”
- José António e a Tenente – Digamos que situamos este modelo num enquadramento vintage, adotado por algumas mães contemporâneas, mas completamente extinto por outras. A mãe tenente entra na consulta “José António, cumprimenta o Dr.!!” e quase sussurrando diz a cria “Olá!”, passando a consulta em silêncio e com a máxima obediência. Quase a saca-rolhas o médico lá lhe consegue roubar um sorriso com olhar.
- Cocó e Chanel - Realmente têm atingido uma popularidade incrível. A mãe veste o chanel, e a restante consulta assenta no cocó da sua cria. “hoje só fez 2 vezes.. e mole!”, “ontem fez pastoso”, “já não faz há 24h!”, “sempre que come alface fica duro.” Digamos que não há enciclopédia com tanta informação sobre os carinhosos dejetos dos bebes.!
- Boss – Um modelito único, singular, com linhas que ficariam bem a todas as mães! Para a mãe determinada, orientada e objetiva. Traz a consulta um resumo das intercorrências, todos os documentos importantes e já uma lista de questões a colocar ao clinico! Fashion style! Ao lado, o pai calado, mostra em silencio a concordância com o estilo Mãe-boss.
- Desigual – Aceita-se a diferença! Mas não posso concordar com ela! Um look desigual implica vestir a contracorrente! Não quer vacinar porque causa autismo. Apresenta claros tons das vozes vegans, paleo, bio. E claro, é desigual porque em nenhuma loja que o doutor possa conhecer existem os produtos indicados para o seu bebé.
- Guess – Uma combinação de mistério e simpatia! Cheia de acessórios no discurso, a mãe que usa este modelito deixa sempre a dúvida no ar! “mas será assim doutor?!” “Não devia dar antibiótico? O dr é que sabe, só estou a perguntar…”. De aparência leve e informada mas atitude sublimemente agressiva.
- Replay – Segue uma clara tendência de insegurança. Mistura tons de informação, questiona e volta a questionar aquela mensagem que já foi transmitida múltiplas vezes. Uma desatenção inspirada na preocupação constante e no fluxo de pensamentos em simultâneo. Uma mãe sem “mãos a medir”
- Faccionable - Digamos que é um “must have” de todas as estações. Um modelito que inspira a parentalidade. A mãe dedicada, que coloca muitas dúvidas sobre o seu filho e debate democraticamente o seu plano terapêutico. Confia e deixa-se confiar!
- Stefarnel – Uma imagem focada no farnel do bebé. Texturas variadas, sabores e cores, com diversos estampados de rodas alimentares. Veste cuidadosamente cada peça (de fruta), em harmonia com a consistência da papa. Nada mais interessa para além das pesagens e percentis de peso.
Ainda assim, a maioria das mães optam pela alternância de estilos e marcas. E bem! Aliás, muito bem! Tudo em prol do melhor para seus filhos. Talvez o único problema seja aquela mãe que veste unicamente uma marca. Um fanatismo pela marca. Um “novo-riquismo” cheio de pobreza. Certamente atrás de cada marca existe muito marketing, onde, como sempre, existem poderosos gurus de filosofias infundadas. Estilistas de formas sem conteúdos! Os problemas da alta-postura do seculo XXI!