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A Mãe Fala | Dislexia? Aprender a ler - quando o processo é difícil?

Por A mãe fala

Idealizei a entrada no primeiro ano da minha filha como uma fase de alegre aprendizagem. Fiz um regresso ao passado, ao tempo em que eu entrei na escola. Lembro-me do prazer da descoberta da leitura e da escrita, de querer saber mais, de começar a ler os livros da coleção Uma Aventura, de escrever bilhetinhos à família e amigas.

Mas a realidade da minha filha tem sido bem diferente. Os TPC começaram logo por ser uma tortura. Inicialmente atribuiu-se o penoso esforço à adaptação à nova realidade e ao cansaço do final do dia. Mas à medida que o tempo ia passando e os TPC aumentando, a par da sua resistência aos mesmos, comecei a ficar preocupada. Aquilo que eu pensava que ia durar meia hora, arrastava-se para três. Nunca ralhámos tanto com ela como neste primeiro ano…

Todos os dias tinha que me reinventar para que ela não encarasse os trabalhos como um castigo: fazia de professor da Heidi ou de outras personagens; fazia de conta que eu era uma menina muito preguiçosa e que ficava danada sempre que ela me ganhava num exercício; fazia corridas para ver quem terminava primeiro as suas tarefas. Às vezes funcionava. A maioria não. 

No primeiro e segundo período, a Diana teve boas notas. Chegou a ter Muito Bom a português, o que muito nos surpreendeu. Mas no terceiro período já a maioria da turma lia muito bem e ela continuava a ler de uma forma muita silabada e a escrever a um ritmo muito lento. A professora relevava, atribuindo estes problemas à sua imaturidade, uma vez que era das mais novas da turma.

Um dia fui buscá-la à escola e dois colegas vieram dizer-me que “ A Diana lê muito mal”, à sua frente. O meu coração apertou-se. Não pelo conteúdo da informação, mas pela reação dela. Fingiu que não ouviu e continuou a sorrir. Preferia que tivesse rebatido a afirmação ou que tivesse ficado zangada! Mas fingir que não se importava mostrou-me que estava a lidar com a vergonha.

Nesta altura a sua desmotivação era gritante. Deixou de se importar com os TPC incompletos, não queria estudar para os testes, não participava nas aulas. Tornei-me crítica do sistema de incentivos usado em várias salas de aula: por cada trabalho sem erros, um autocolante amoroso. À medida que a matéria ia avançando, deixou de receber os cobiçados prémios. Mas a verdade é que se esforçou o triplo para obter resultados satisfatórios a português do que a maioria dos meninos que tinham tudo certo. Não me parece justo recompensar os resultados ao invés do esforço nem vejo como podem motivar uma criança com dificuldades.

Para além dos sinais de alerta que já referi, houve outros que me levaram a procurar uma consulta da especialidade:

  • Velocidade leitora bastante baixa. Se o esperado é que uma criança leia 50 palavras por minuto no final no primeiro ano, a Diana fica-se pelas 10 quando lê o texto pela primeira vez;
  • Escrever algumas letras e números em espelho. No início do ano, escrevia sempre o nome e a data desta forma;
  • Troca de letras: o z pelo v; o b pelo d, no caso dela. Ler um texto assim é um esforço tremendo, que cansa efetivamente.
  • Total falta de curiosidade para a leitura. Nesta fase as crianças têm imensa vontade em descobrir palavras, seja em revistas, nos letreiros, nos cartazes, enfim, é um admirável mundo novo. A Diana leu duas únicas palavras de livre e espontânea vontade, quando começou a aprender a ler: Natal e Pão. Nunca me vou esquecer. Foi música para os meus ouvidos. Pena que tivesse durado pouco. Mas, por outro lado, sempre adorou livros e que lhe lesse.
  • Dores de barriga sempre que sabe que vai ler fora de casa.
  • Interiorizar que a ler é difícil e que nunca vai conseguir.

Neste momento debatemo-nos – pais, escola e psicóloga – com as suas dificuldades, analisando se se trata de dislexia ou de algo relacionado com problemas de atenção. Tem trabalhado na escola, na clínica e em casa para superar as suas dificuldades, com alguns resultados positivos. Ainda assim, é um longo processo, que não se compadece com o ritmo frenético da matéria do primeiro ciclo. 

E assim caminhamos, com altos e baixos. Um dia de cada vez. Um fonema de cada vez. Uma sílaba de cada vez.

Ana Santos

 

* O nome Diana é fictício para proteger a identidade da filha da mãe que a aqui fala.

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3 comentário(s)

Ana 06 de Outubro, 2016 às 09:36:12
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Tivemos uma experiência muito semelhante, mas concluímos não ser dislexia, mas uma perturbação do processamento auditivo central. O diagnóstico é feito por um audiologista, e a reabilitação por terapia da fala ou em audiologia. É algo muito pouco divulgado ainda em Portugal, e não é fácil encontrar profissionais habilitados a tratar o tema.

Sofia Simões06 de Outubro, 2016 às 09:50:37
Responder

Passámos e ainda vivemos esta situação com a nossa filha. O primeiro ano foi o caos, com muita conversa com a professora, bons resultados nos testes mas apenas porque a professora "chamava a minha filha à terra", caso contrário, não concluiria as provas. Este ano está melhor, a caligrafia está muito mais estável embora ocasionalmente ainda troque números e letras. Estou convencida que com o hábito e treino a sua filha vai começar a ver resultados positivos e vai ganhar mais entusiasmo! Há dias em que ponho as mãos à cabeça e considero o ensino doméstico, mas acredito que apesar de todas as pressões do ensino, acho que a escola ainda é o melhor lugar para as crianças. Não desista de acreditar na sua filha! Sofia (colaboradora Eu, Mãe)

Rita11 de Outubro, 2017 às 01:08:07
Responder

Muito bom estas palavras tenho uma neta dislexica e como ela tenta ser igual a todos...mas acredito com ajudas ela vai ficar bem

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