Fez dia 29 quatro meses que fui mãe pela segunda vez! Três anos e meio depois, o meu coração voltou a bater forte por uma nova criatura e eu estou tão apaixonada quanto da primeira vez. Após um longo período de licença de maternidade (obrigada Inês!), decidi encetar esta nova temporada aqui no Eu, Mãe com o relato do meu último parto porque também há histórias com finais felizes!
O meu segundo parto foi planeado para ser em casa. Sim, em casa... Não me crucifiquem já por favor e leiam o texto até ao fim. Quem conhece a história do meu primeiro parto, contei-a aqui, sabe que foi uma experiência incrível e muito bem sucedida: um parto natural, sem anestesia nem internamento e que se desenrolou de forma rápida (para primeiro parto).
Desta vez eu queria ter o meu filho no mesmo sítio e repetir, se possível, a façanha, mas a minha médica estava fora na data em que eu fazia as 40 semanas - só chegaria 5 dias depois - e eu tive de arranjar um plano B. Depois de pesquisar sobre alguns sítios e falar com algumas parteiras e de chegar precisamente à mesma conclusão que cheguei há 4 anos atrás (não havia nenhum hospital nas imediações onde pudesse ter o bebé na água e ter um parto como eu queria) acabei por optar pelo parto em casa. Eu, que da primeira vez estava tão céptica, desta vez nem hesitei e comecei por tratar de escolher a equipa vencedora: o A., um Enfermeiro-Parteiro especializado em Obstetrícia com uma vasta experiência em partos domiciliares; a Doula, a minha já conhecida e amiga C. P. que me fez o acompanhamento no dia do parto; e o M. na qualidade de meu marido, companheiro de viagem, pai da criança e médico, mas que estava ali apenas para cumprir os três primeiros papéis.
No dia 29 de Setembro de 2017 acordei por volta das 5 e 10 da manhã para ir ao quarto de banho como de costume, no entanto, pouco tempo depois comecei a sentir que estava a perder água aos poucos... Dei o primeiro alerta ao parteiro e fui para a cama descansar pois estava longe de imaginar que o trabalho de parto se desencadearia de imediato. Entre uma tentativa de descanso e uma conversa com o marido que já não pegava no sono, sinto a primeira contração já bem forte e tinham passado apenas 20 minutos. Levanto-me calmamente para ir comer alguma coisa e percebo que as contrações estão muito pouco espaçadas (a cada 3 minutos).
O meu marido começou a preparar a casa e a encher a piscina, pedi ao Parteiro que se arranjasse calmamente e se fizesse à estrada mas ainda me faltava ligar à Doula. Não liguei logo porque achei que a ia incomodar às 5h45 da manhã e que esperava pelas 6h. Eu estava super calma e tranquila, achava que ainda tinha muito tempo pela frente e decidi ir tomar um banho (também para perceber se as contrações acalmavam ou não) mas não havia meio de parar e durante o banho mantinham sempre a mesma cadência. Foi então que liguei à C. acordando-a e ela pôs-se a caminho rapidamente.
Na meia hora seguinte, deambulei pela casa com as mãos no fundo da barriga e os pés a levantar do chão, um a um, em movimentos livres enquanto vinham as contrações. Senti o bebé posicionado e em movimentos descendentes e comunicava verbalmente com ele! Olhei-me ao espelho e a minha barriga tinha adquirido outra forma: estava alta e esguia e o meu bebé estava a querer vir de forma muito, muito rápida.
A piscina estava cheia, a Doula chegava e eu estava posicionada de gatas sobre um colchão de yoga - com a cabeça apoiada no meu braço e num puff - e só sentia vontade de fazer força. Eram 6h30 da manhã, tinha passado apenas 1 hora desde a primeira contração e eu estava já no período expulsivo. A Doula ao perceber o estado avançado da coisa, contacta o parteiro e este diz-lhe que não vai conseguir chegar a tempo. O trabalho tinha avançado depressa demais ao ponto de ninguém prever que o parto iria acontecer quase de imediato. Senti o nervosismo na voz do meu marido a tranquilizar-me, fazendo-me crer que ele chegaria a tempo, porém eu que estava ali a sentir tudo percebia que o bebé estava a descer de forma muito célere e só me apetecia fazer cada vez mais e mais força.
Como não conseguia sair daquele sítio, tanto para ir até ao hospital mais próximo (5 minutos de carro), como para entrar na piscina (3 metros), aceitei, entreguei-me totalmente e fiz o que o meu corpo mandou (sob o apoio incondicional da Doula). E assim, entre cada puxão chamei pela minha mãe: "ai mãe, ai mãe..." e comuniquei com o meu filho, que queria mesmo muito vir a este mundo depois de 40 semanas e 4 dias. Senti o meu corpo todo a abrir, o chamado círculo de fogo, a cabecinha dele a passar e pus-lhe a mão para lhe tocar. Depois parei e expirei fundo, e numa respiração longa e contínua, o corpo do bebé desceu num movimento fluido e dançante, rodando sozinho sobre si mesmo e eu a assistir a tudo de forma tão incrédula! O meu marido recebeu o bebé com as duas mãos e colocou-o de imediato nos meus braços. O meu menino choramingava sem parar no meu colo e eu, e nós, a olhar para ele e a desfrutar daquele momento ímpar nas nossas vidas depois de tamanha façanha! O relógio tocava as 7 da manhã quando o meu Afonso nasceu e quando eu renasci enquanto Mãe e a minha família ganhava um novo benjamim!
A piscina estava cheia, não houve tempo de ir para a água, a máquina estava preparada para fotografar e filmar, mas não deu tempo para fazer nenhuma das duas, a música estava pronta na aparelhagem, mas não houve tempo para a por a tocar. Foi tudo tão apressado, tão rápido, tão intenso e tão, mas tão bonito, que eu não consegui sequer largar uma lágrima de emoção! Estava num estado de alegria e euforia, numa bolha de um sentimento que até àquele dia desconhecia! O parto foi lindo, maravilhoso, muito limpo e um momento singular e o bebé encantador! Depois de o ter nos braços a primeira coisa que eu disse foi que não me tinha custado nada. Repito-o ainda hoje com a mesma convicção.
O parteiro acabou por demorar um pouco mais do que o previsto pois foi multado no caminho (!!) e o corte do cordão e o nascimento da placenta aconteceram apenas algum tempo depois. Enquanto esperei estive com o bebé nos braços, dei de mamar e comi (tinha muita fome e só me apetecia fruta). Depois o meu marido cortou o cordão, expulsei a placenta e consegui ir pelo meu pé tomar um banho.
De facto esta minha experiência veio provar aquilo que já sabia: que o parto é um ato fisiológico, natural e que nós mulheres (em condições normais, claro, e sob a orientação certa) estamos preparadas para isto, faz parte da nossa natureza, de outra forma não se justifica como é que se consegue ter um filho sozinha! O meu primeiro parto já tinha sido fantástico e muito emocionante, mas este superou todas as expectativas e tenho plena consciência de que estas duas vivências me mudaram para sempre enquanto pessoa. É certo que para situações como esta acontecerem tem que haver também um histórico de gravidez(es) normais, sem quaisquer antecedentes ou seja, com cadastro completamente limpo.
Desta vez, ao contrário da primeira não houve blues nem deitei uma única lágrima nos dias que se seguiram, estava num estado de euforia, felicidade, plenitude e só me apetecia agradecer ao Universo esta sensação de família completa, de união de sentimentos e de paixão pelos 3 Homens da minha vida!
Bem sei que nem todas as mulheres têm ou não podem ter (ou simplesmente não querem) a oportunidade de ter uma vivência como esta, mas adorava que esta minha história com final feliz pudesse inspirar mais mulheres a terem partos mais naturais em casa, no hospital ou em qualquer outro lugar.
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1 comentário(s)
Obrigada Fernanda! Um grande beijinho para ti!
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