É mágico o sentimento que as crianças têm em relação aos pais quando acham que os pais sabem tudo! (Deixa-me aproveitar! Diz que daqui a uns anos eu já não vou saber nada!)

E também é assustadora a confiança que eles têm em nós. Não para eles, mas para nós mesmos!

Aprendi que não devemos ter receio de mostrar aos filhos que não sabemos tudo. É uma forma de lhes mostrar que também somos falíveis. Que a sabedoria nunca é absoluta nem finita.

Só que arranjei uma forma confortável de driblar as perguntas ditas "difíceis".

- Não faço ideia! Mas podemos procurar na net.

O único problema é quando eles perguntam quando vamos morrer. É óbvio que a resposta que eles queriam ouvir é a mesma que gostaríamos de dar: Nunca meu amor!
Mas infelizmente, não é assim. Tento ser cuidadosa com as promessas que faço e sacudo a chuva do capote com um:
- Se Deus quiser, a mãe vai morrer muito velhinha! Quando tu já tiveres netos.
É uma resposta que lhes serve, não causa aflição e não é impossível de acontecer. Fico depois a fazer figas para não me ir cedo demais e passar por mentirosa! Deixei a coisa, estrategicamente nas mãos de Deus! "Se Deus quiser!" Quase que lhes dou abertura para porem as culpas nEle se os planos não saírem como previsto.

Hoje a conversa voltou a ter um rumo difícil de explicar.

- Mãe, vou fazer um-dó-li-tá para ver se gosto mais da mãe ou da mana!
- Vicente, essas coisas não se medem! Nem se entregam à sorte!
- Então como vou saber?
- Não precisas de saber! Pensa que gostas infinitamente das duas. De cada uma à tua maneira. Que não tens de gostar igual das duas e isso não significa que gostes mais de uma ou de outra.

Acho que baralhei a criança! E a mais velha (que adora estas conversas sem atalhos e sem respostas) lança-se também no debate.

- Mas mãe, então como é que sabemos essas coisas?
- Meu amor, os sentimentos não se medem! Sentem-se! O que se sente por uma mãe não é igual ao que se sente por um irmão!
- Então gostamos mais de quem?
- Querida, não dá para explicar! Gostas muito dos dois. Não tens de tentar perceber de qual gostas mais.
- Mas eu gostava de saber!
- A mãe não sabe explicar. Essa pergunta não tem resposta.
- Podemos ir ver ao Google?

E assim fiquei definitivamente sem resposta.

É angustiante não ter todas as respostas para dar aos filhos. Mas é gratificante ver que eles procuram respostas para tudo! Que assim se mantenham pela vida fora. Com perguntas para tudo e sem respostas para muita coisa. Vai fazê-los crescer por dentro! Até serem velhinhos.

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