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Mãe Bio-Lógica | Baby blues: Porque é que ninguém me avisou que isto era assim?

Por Linda Barreiro

O nome até podia ser de um estilo musical, mas de estilo tem pouco e de musicalidade mesmo nada. O baby blues ou melancolia pós-parto existe mas - quase - ninguém fala dele. Mas afinal o que é isso?

O baby blues é genericamente definido como uma perturbação emocional, que pode durar alguns dias depois do parto, consistindo num estado de tristeza, desconforto e choro frequente.

A mulher está num turbilhão de emoções e alterações - fisiológicas e hormonais - que ocorrem durante a gravidez e com o nascimento do bebé. É uma verdadeira confusão: de um lado o evento mais feliz da sua vida, do outro a responsabilidade, a angústia e o receio de saber se está à altura deste novo desafio. No meio de tudo isto: o cansaço, a exaustão, as noites (e os dias) sem dormir e a adaptação à nova rotina e condição familiar. Tudo isto sem aviso prévio, sem passar pela casa “Partida” e sem receber 2 contos. É dose!

Eu passei pelo meu baby blues como aliás já aqui referi no artigo acompanhamento pós-parto ao domicílio. Apesar de estar alerta para a situação, antes de mim ninguém me falou disto e eu despertei para esta realidade depois de passar por ela, claro está. Desde então que tenho como missão estar o mais perto possível de todas as minhas amigas que estejam para ser ou que tenham sido mães, algumas delas com baby blues bem fortes por sinal. E foi a conversar com uma delas que surgiu a ideia para este artigo que conta com citações verídicas de uma mãe, em jeito de desabafo, e que refletem muitos dos anseios e medos que podem passar pela cabeça de uma mulher depois de dar à luz.

- Estes dias não têm sido nada fáceis para mim... Na verdade não há um dia, ou noite, em que não passe grande parte do tempo a chorar. Às vezes sinto-me completamente incapaz, perdida, sozinha, frustrada, incompetente, egoísta... Enfim, uma série de sentimentos e emoções nada positivos.

É normal, é uma tristeza que nos assalta e que não é passível de explicar a ninguém e só quem já passou por isso é capaz de perceber. É estranho até para nós quanto mais para os outros... Lembro-me perfeitamente que nos primeiros dias eu chorava quando o bebé chorava, o choro dele causava-me dor, ansiedade... Recordo-me do meu marido por as mãos à cabeça e dizer: "então mas eu agora tenho dois a chorar?". Agora penso: coitado!

E para agravar só penso em todas as outras mães que conheço, mais ou menos recentes, para quem tudo parece ter sido fácil. Não ouvi nenhuma dizer que passava os dias a chorar ou que o bebé passava toda a noite acordado, nem nenhuma se queixou de estar a enlouquecer por não dormir, não comer, não ter tempo sequer para tomar banho....

Isso é partir de um pressuposto errado. Se por um lado poucas mulheres admitem o que sentem e como se sentem nesta altura, por outro lado a sua memória também é curta e seletiva. Tendemos a esquecer com facilidade e a aligeirar episódios menos positivos quando já fazem parte do passado. E bate a todas, de forma mais ou menos intensa, não me lixem! É hormonal, impõe-se, é uma lei da física e pronto. Agora depois o que cada uma sente já é diferente, claro, e aí não há lei da física que dite absolutamente nada quando estão em jogo sentimentos.

Para mim tudo era ainda mais estranho pois eu sou daquele tipo de pessoas completamente distraída hormonalmente. Não consigo adivinhar quando me está para vir o período, não sei quando estou no período fértil, enfim não noto que nada disto afete o meu humor. Basicamente estou sempre - ou quase sempre - bem disposta. Mas nesta altura sentia mesmo esta coisa das hormonas aos saltos: a irritabilidade, as emoções à flor da pele...

No outro dia uma amiga dizia-me que não há nada mais fácil que cuidar de um bebé. A minha vontade foi dizer-lhe para vir cá para casa passar uma semana comigo, dia e noite, para me ensinar! Juro!

Confesso que quando ouço alguém dizer isso fico logo com um pé atrás. Não obstante uns bebés poderem ser mais sossegados que outros, dão sempre trabalho, principalmente quando é o primeiro filho e quando tudo é feito pela primeira vez, com pouca segurança e descontração.

Para mim tem sido tudo menos fácil. Tudo tem corrido ao contrario do que planeei, quis e imaginei. Desde o trabalho de parto horrível, às epidurais, até culminar numa cesariana que era tudo o que eu não queria e agora o comportamento do bebé, ou antes a minha incapacidade para lidar com isto...

Acredito muito que o contexto do parto - e do pós-parto - possam agravar e prolongar este estado de espírito e ainda mais quando as nossas expectativas foram defraudadas no momento do parto. Ou então em casos menos felizes, como os que conheço, em que as mães vieram embora do hospital e deixaram os bebés internados. Imagino que deva ser muito complicado. No entanto, mesmo com todas as adversidades que possam surgir, o importante é manter o pensamento positivo.

A mãe não vai ter tempo para fazer mais nada senão dar de mamar, praticamente, por isso ao invés de olhar para isso como uma prisão, deverá vê-lo como uma oportunidade, uma disponibilidade total que terá de ter para o seu bebé, mesmo que se sinta mais em baixo ou desgastada. Ele está ali e precisa dela mais do que de qualquer outra pessoa!

Recordo-me que um dos problemas maiores com que me deparei, no meio de todo esse estado psicológico, foi o cansaço acumulado das primeiras semanas: as noites com pouco sono, o facto do bebé dormir pouco, as tarefas todas para fazer, não é fácil... Mas depois com o tempo as coisas vão-se alterando, e o nosso corpo também se vai habituando, e esse passa a ser o estado normal de Mãe: cansada mas feliz!

Não me apetece ver nem falar com ninguém nem responder às perguntas do costume. Tenho vergonha de admitir como me estou a sentir e sinto-me culpada, caprichosa, como se fosse uma criança birrenta e egoísta.

O medo de admitir o que se sente nestes momentos é sempre comum, mas todas as mulheres que já passarm por isso sabem como é, por isso se não estamos à vontade para admitir perante os outros, então procuremos ajuda nas nossas amigas que já foram mães, na nossa própria mãe ou em alguém que nos vá conseguir entender, amparar e saber acarinhar neste momento tão particular.

- Queria ser como as outras mães que sabem o que fazer, que não se deixam ir abaixo, que dão conta da situação, que se controlam, que sabem tratar dos bebés e sabem o que eles precisam, quando precisam, quando precisam. Gostava de não desatar a chorar cada vez que o bebé chora, gostava de não entrar em pânico cada vez que a noite se aproxima...

As mães que tudo sabem também tiveram o seu estágio e também passaram exatamente pelos mesmos episódios de ansiedade, insegurança e de incerteza. E é para isso que estes momentos servem: para nos fazerem crescer enquanto Mulheres e enquanto Mães. Há lá raça mais forte que esta?

Sinto-me derrotada e sinto que estou a falhar redondamente nisto de ser mãe.

Não há nada para falhar. Ninguém faz tudo certo à primeira na vida e isto é apenas um começo. E tal como tudo requer alguma interiorização e adaptação a esta nova condição. É importante acreditarmos em nós próprias e estarmos certas de que vamos ser capazes de superar esta fase, de outra forma pode-se transformar em algo mais sério e isso já não estava nos planos. Pode demorar um bocadinho mais de tempo, mas passa com toda a certeza. O que pode não passar é a lamechice, meu deus... Eu fiquei uma piego-lamechas daquelas que não pode ver nem ler histórias emocionantes, que envolvam crianças sobretudo, que-começa-logo-a-deitar-uma-lágrima, que-se-comove-com-tudo... Enfim, nada é perfeito!

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1 comentário(s)

ana fonte01 de Dezembro, 2015 às 21:47:29
Responder

Obrigada pelos testemunhos. O meu baby blues culminou numa depressão longa e difícil... Quase três anos depois ainda sinto um nó na garganta quando leio, falo ou ouço este assunto. Revejo-me em todos e cada um destes testemunhos. Foi uma sorte eu ter sobrevivido...

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