Tenho um cabelo branco enorme ao lado da têmpora que me acompanha há bastante tempo. Sempre que perco mais tempo ao espelho, ele está lá! É o meu Luís Ricardo! Sim, dei-lhe um nome! Achei que, já que teríamos de conviver um com o outro, deveria haver um mínimo de intimidade entre nós. Cuido dele com o mesmo carinho com que cuido dos restantes milhões de cabelos que habitam a minha cabeça. Com shampoo sem sal, amaciador e óleo hidratante para não ficar estragado. 

No cabeleireiro já me tinham avisado que ele não era o único albino a morar na minha farta cabeleira, mas, "longe da vista, longe do coração!"
Confesso que não perco muito tempo em frente ao espelho! Penteio-me à pressa de manhã, passo um bb cream de forma já automática e ponho risco e rímel nos olhos sem perder muito tempo a apreciar as vistas reflectidas no espelho.
Há 2 dias, avistei mais um, mais outro, mais outro... Resolvi perder mais tempo, ligar todos os focos de luz da minha casa-de-banho e admirar o meu cabelo. Separei melena por melena... Arregalei os olhos... Sustive a respiração... Lá estavam eles! Todos! Tantos! A reproduzirem-se que nem coelhos. Já não os consigo contar. Contam eles por mim! As histórias da minha vida. Será que cada um nasceu de cada susto, alegria, desgosto, euforia por que passei? Tal como as fadas nascem com o primeiro sorriso de um bebé?
Sinto um misto entre agonia e orgulho. Entre sentir-me crescida ou gasta. Agastada talvez? Será isto um sinal de maturidade? Ou apenas o código genético a falar e a dizer que é suposto ter cabelos brancos cedo tal como o meu pai?
A primeira reacção foi ter vontade de correr para o cabeleireiro e pedir para me despejarem tinta pela cabeça abaixo!!! Cá por dentro, o que sinto não combina com o que está ali a florescer. Ou será que sim? Por outro lado, porque não assumi-los e deixá-los crescer livremente tal como a Natureza manda?
Tanto gosto de apregoar por aí esta nova adolescência pós divórcio! Achava que me ficava só pela parte boa. Afinal também tenho de lidar com as mudanças no corpo! E perceber como aceitá-las! Os cabelos brancos, as rugas em volta dos olhos, a celulite no rabo!...
Ou então é só o facto de estar a entrar na segunda parte dos 30 sem saber muito bem ainda o que quero ser quando for crescida!

foto: Oren Hayman