O testemunho de hoje traz-nos a história da maternidade (parentalidade!) adiada por infertilidade, uma infertilidade que não tem sempre uma explicação evidente, mas que adia os ansiados dois tracinhos no teste de gravidezm por longos meses ou duros anos. Nem todas as gravidezes são imediatas, nem todas as gravidezes são fruto de tratamentos contra a infertilidade. Há gravidezes que simplesmente tardam e entretanto angustiam.
QUANDO O BEBÉ TARDA EM CHEGAR
A minha história é igual à de tantas outras – dirão, aqui está o primeiro cliché...
A verdade é que sim, não fui a primeira nem seguramente serei a última das mulheres que, na fase da vida que dão como certa, decide, com o seu companheiro, ter um bebé, finalmente.
Chega o segundo cliché. Teremos o nosso primeiro filho depois de casados, depois da casa, comprada, depois dos estudos, completos, e do trabalho, estável, porque isto das crianças envolve muita responsabilidade e, além disso, ainda queremos fazer umas quantas viagens...
É agora. Lemos os livros certos, aprendemos o essencial sobre o assunto, quando vier, será benvindo, até lá, curtimos a sobrinhada, que é tão bom! Objectivo: engravidar antes dos 30.
Mas os meses passam, sem novidades. Os outros todos já têm os seus rebentos, o que é que se passa connosco?
O terceiro cliché nesta história. Não vale a pena ficar ansiosa, angustiada, o positivo chega quando menos esperarmos! Até o médico: tenha calma, é muito nova, está tudo bem! Aproveitem enquanto são só os dois...
O problema é que os programas a dois já não têm tanta graça como antes, o calendário passa a ser controlado pelo... calendário. O dia do mês, a temperatura basal, e se fosse hoje...?
Usamos racionalidade na situação: averiguaremos o que se passa, faremos exames de diagnóstico e despiste de alguma anomalia. Da ecografia mais rotineira ao espermograma, das análises de sangue à histerossalpingografia (o que é isso?!), está tudo bem, não esquecer que uma gravidez natural tem apenas uma probabilidade de 20% em cada ciclo, está sempre dependente da idade fértil da mulher...
Procuramos lidar com o assunto, planear como responder a todos os que perguntam quando chega o rebento, reagir quando todos à nossa volta já têm (pelo menos) um bebé. Guardamos para nós, como um segredo de que nos envergonhamos, ou falamos abertamente de um problema de que não somos culpados? Fazemos disto um bicho de sete cabeças ou enfrentamos as dificuldades com naturalidade?
Diagnóstico: infertilidade inexplicável. Infertilidade? Bem, não no seu mais rigoroso sentido técnico, pois que, até aos 35, só se considera tal patologia decorridos dois anos sem conceber. Afinal, há tantos casais com dificuldades em engravidar, tantos com problemas bem sérios, necessitando de tratamentos médicos longos e dispendiosos.
Mas nós concebemos: ao fim de meses e meses de espera, talvez um ano, mais, chega o tão aguardado positivo, finalmente! Temos de anunciar ao mundo! A medo, primeiro aos pais e irmãos, depois a alguns amigos próximos.
Nem tivemos tempo de prolongar a nossa alegria, um dia a pequena mancha de sangue escuro faz o nosso mundo desabar.
Novo diagnóstico: aborto espontâneo, às sete semanas de gestação. “Acontece a todas as mulheres, pelo menos, uma vez na sua vida, muitas nem se apercebem...”, diz o médico. Mas eu apercebi-me, porque eu vivia para chegar ao fim de cada ciclo, para o primeiro atraso de um dia, dois dias, três dias.
Quando o novo positivo chegou, tão cedo afinal, o medo tomou conta da nossa alegria. A espera, os dias que faltam até à primeira ecografia, não podíamos entregar-nos à felicidade. Mas a confirmação chegou, as semanas passaram, a barriga cresceu até às 40 semanas e finalmente tivemos o nosso bebé nos braços.
E agora, pensamos, já somos um casal “normal”, tudo acabou bem, devemos começar a pensar no irmão? Se demorámos tanto da primeira vez, é melhor não perder tempo.
Mais um objectivo: ter o segundo bebé antes dos 35, investigar nos livros qual o intervalo ideal entre os manos.
O positivo lá chegou, também com o seu tempo, e com ele os mesmos medos. Mas que diabo, porquê, não somos mais nem menos que os outros, o aborto já aconteceu, pronto, já não se repete...
Mas repetiu, e doeu mais, muito mais. Desta vez, não houve perdas de sangue, nada. Apenas o silêncio. Do médico, do ecógrafo que devia ressoar os batimentos cardíacos, o silêncio. E as lágrimas.
O epílogo da minha história é o de um final feliz. Alguns meses depois voltei a engravidar e voltei a gerar um bebé perfeitamente saudável.
Não fiquei grávida, pela primeira vez, antes dos 30. Não tive o segundo filho antes dos 35. A espera, a frustração, a tristeza e o sofrimento foram inevitáveis.
Tenho duas crianças lindas e saudáveis, faço o que posso para ser uma boa mãe, não sou nem mais nem menos do que qualquer outra. Vivo em pleno as “maravilhas da maternidade”!
Toda nossa vida nos habituámos a resolver as nossas dificuldades com esforço, trabalho e dedicação, obtendo com isso o objectivo esperado. Foi para isso que fomos educados e é assim que queremos educar os nossos: com trabalho, tudo se consegue. Mas, na busca de um filho, a vida deu-me uma grande lição. Não podemos intervir em tudo, a natureza não está toda ao nosso alcance.
Como tantas outras mulheres, vivi esta história com um final muito feliz.
Se quiser partilhar connosco a história que está atravessada na sua garanta, escreva-nos para global@eumae.pt
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2 comentário(s)
Muito obrigada pela partilha. No nosso caso já lá vão 1 ano e 3 meses de tentativas. Com muitos percausos à mistura e o diagnóstico de infertilidade feminina, neste caso SOP. Vive-se um dia de cada vez, tentando que a cabeça não pense muito no assunto, mas é uma luta.
Um beijinho de muita força e que corra tudo bem e dentro de pouco tempo!! Estamos consigo
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