A parte boa de ser uma mulher divorciada é que hoje, quase 10 anos mais velha depois da última vez que andei nestas andanças, tenho muito mais confiança em mim. Sei bem o que quero e tenho uma experiência de vida que não tinha. Antes andava à procura do príncipe encantado, queria um casamento de sonho, ter muitos filhinhos e ser feliz para sempre. O plano saiu furado! Mas não me furou a vida!
Gosto muito mais de ter 33 do que 23! Gosto muito mais da vida que tenho hoje (apesar de todos os sobressaltos que tive que ultrapassar para cá chegar) e, principalmente, gosto muito mais de viver!
Aos 23 anos temos toda uma disponibilidade para o mundo! Não corremos o risco de nos cruzarmos na rua com um tipo mesmo giro e de ter um bocado de cerelac colado à camisa. As noites não têm horários porque no dia seguinte também não temos de preparar chocapic com leite nem sintonizar a televisão no Panda a horas pornográficas!
Mas aos 33, apreciamos muito mais um bom jantar e um bom vinho. Aos 23 anos não temos de conciliar as saídas com os dias em que eles estão com o pai, mas aos 33 tiramos prazer em andar apenas pela cidade a ver as luzes à noite.
Aos 33 não vives obcecada se ele vai reparar na tua celulite porque esperas que ele dê mais importância à tua conversa ou aos teus interesses. Tal como farás com ele. Quanto mais não seja porque os dois partos já deixaram duas cicatrizes de cesariana e as tuas mamas, depois de amamentarem duas crianças, já não têm a mesma relação com a gravidade que tiveram aos 23. Mas tens muito mais coisas interessantes para mostrar que um corpitxo de sereia.
Aos 23 anos não temos de cancelar um jantar porque o filho vomitou o chão da sala, mas aos 33, um sítio giro com boa música, onde possamos ficar horas à conversa, serve de cenário para uma noite perfeita.
Aos 33 anos queremos uma boa companhia que nos faça dar umas boas gargalhadas. Estamo-nos nas tintas para quantas namoradas teve (desde que não sejam todas ao mesmo tempo) porque a maturidade nos ensinou que o que conta é o presente. Gostamos que ele goste de vinho e pouco importa se é campeão de surf ou de rugby. Preferimos que ele tenha uma óptima conversa do que cumprimente a discoteca inteira.
Não há pressa nas coisas, já não pensas em casar e ter filhos, e por isso, as coisas são mais apreciadas. Descobrimos que um sapo com charme é bem mais interessante do que um principe deslavado. E meia dúzia de grisalhos espalhados pela cabeça dão muito mais pinta do que um cabelo descolorado pela praia.
Gosto da magia de combinar um encontro no meio de um cesto de roupa para lavar, um filho deitado no chão aos gritos porque não lhe dei bolachas e outro a tirar macacos do nariz. De andar a mil para deixar crianças lavadas e alimentadas à babysitter e conseguir vestir-me e tentar sair de casa fabulosa para depois respirar fundo e apreciar realmente o vinho e a conversa. E no fim de umas boas horas de conversa e gargalhadas, poder dar um beijo na testa das bolas refilonas e cheirosas que dormem no quarto ao meu lado e adormecer de sorriso na cara.
Viver tudo isto aos 33, depois dos filhos e de um casamento que não resultou, tem realmente um sabor que antes não tinha. E quem não gosta?
É aquilo que eu chamo (provavelmente já ouviram/leram) de 2ª adolescência. Como se a vida te estivesse a dar uma nova oportunidade de voltar a fazer tudo outra vez. Mas com a vantagem de teres mais cabeça, mais experiência e sem teres de dizer à mãe a que horas voltas. Até porque se calhar nem voltas.

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