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Espaço da Mãe | Da Dor da Perda

Por Tatiana Homem

Desde que comecei a fazer consultas de acompanhamento pré-natal, tenho estado com várias mulheres que experienciaram a dor da perda de uma interrupção involuntária da gravidez. Embora esta perda seja, tradicionalmente, vivida de uma forma privada, à minha volta, e imagino que à volta de muitas mulheres, há histórias de amigas, familiares ou histórias pessoais, de aborto espontâneo.

Estudos recentes têm contrariado a ideia que com o tempo (e, sobretudo, após o nascimento de um novo bebé), a dor da perda diminui, demonstrando que algumas mulheres podem sentir esta dor por um tempo maior do que aquele que é expectável, mesmo após o nascimento de um filho saudável.

Janet Jaffe, especialista nesta temática, refere que “por ser um acontecimento médico tão frequente, o impacto do aborto espontâneo é muitas vezes subestimado”. No entanto, sublinha que este pode representar uma perda traumática, não só da gravidez, mas também do sentimento de si, das esperanças e sonhos em relação ao futuro. De facto, importa não esquecer que pouco tempo depois da conceção, os processos fisiológicos e psicológicos da gravidez têm início. Corpo e mente preparam-se para a maternidade. Assim, quando a gravidez é interrompida, a mulher, que está fisiológica e psicologicamente preparada para a maternidade, fica preparada para um bebé que não vai chegar. A dor ligada ao aborto espontâneo não está apenas relacionada com esta perda em si, mas com tudo aquilo que este bebé e esta mãe poderiam ter sido. 

Isto poderá ajudar a explicar que muitas mulheres que sofrem esta perda apresentem um risco mais elevado de manifestarem sintomas depressivos ou ansiógenos nos anos seguintes, bem como de virem a sofrer de uma depressão pós-parto após o nascimento do seu bebé saudável. Após a perda, investem muita da sua energia emocional a tentarem dar sentido ao que aconteceu, a tentar encontrar explicações. Muitas vezes culpam-se e pensam repetidamente sobre o que poderiam ter feito de forma diferente: talvez se eu não tivesse ido ao shopping naquele dia; talvez se eu não tivesse pegado no meu filho mais velho ao colo; talvez se não tivesse trabalhado 10 horas…. Estes sentimentos tornam-se ainda mais difíceis de gerir se esta não foi uma gravidez desejada à partida. Neste caso, é mesmo muito importante ajudar as mulheres a compreenderem que o facto de não terem desejado inicialmente aquela gravidez, não as torna culpadas ou responsáveis por esta perda.

Com todas as mulheres, importa reconhecer e validar a sua dor, independentemente da altura da gestação em que a perda acontece. Não desvalorizar ou passar a mão nas costas, mas sim oferecer colo e suporte, e tempo para partilhar sentimentos. E lembrar que, para a grande maioria das mulheres, esta perda acontece apenas uma vez e que novas oportunidades de levar a termo uma gravidez saudável rapidamente surgirão.

 

Tatiana 

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