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Mãe Bio-Lógica | Acompanhamento pós-parto ao domicílio e um café duplo, por favor!

Por Linda Barreiro

É facto que a natureza humana é perfeita ao proporcionar à mulher um período de 9 meses de preparação e de interiorização para a maternidade. É verdade que a mulher nessas - cerca de - 40 semanas já limpou tudo quanto é bibliografia sobre gestação, parto, amamentação, alimentação complementar e bebés. É certo que a nova família vem ganhando forma desde que no ventre habita um novo rebento. É sabido que a expectativa é alta e as emoções estão todas à flor da pele, mas depois de parir é que são elas!

A teoria é importante, mas é apenas uma parte do conhecimento. Fazemos o nosso cursinho de preparação para o parto, ficamos todas satisfeitas porque estamos preparadas e estudamos mesmo bem a lição, mas no exame prático acabamos todas - e todos - por reprovar à primeira!

Reprovamos sim, apesar do nosso instinto ser o mais importante (como tanto se usa dizer), a maior parte das vezes só lá vamos com a dinâmica tentativa-erro. E até aqui não vejo mal nenhum, afinal o erro faz parte do processo de aprendizagem, mas uma mãozinha de alguém de fora às vezes vinha mesmo a calhar... De outra forma estamos sempre sujeitos a arrancar os cabelos do nosso marido, da nossa sogra, da nossa mãe ou da nossa amiga que nos veio visitar, que especulam, vezes sem conta, sobre os possíveis motivos do bebé estar a chorar.

Os bebés choram porque choram, os bebés choram porque sim, os bebés choram porque têm de chorar. Se mesmo depois de termos dado de mamar, trocado a fralda, tentado adormecê-lo, o bebé teima em continuar a fazer valer a sua robustez vocal, a culpa não é nossa, nem é dele, mas também não é de mais ninguém. O choro é simplesmente a única forma que ele tem de se manifestar para o mundo, não é nenhum tipo de ingratidão para com quem está a cuidar dele. E é precisamente para desmistificar este tipo de episódios que estão a acontecer, in loco, no exato momento em que a mulher está num turbilhão de emoções - após uma brutal descarga hormonal - que enquadro estas visitas de acompanhamento pós-parto ao domicílio.

Eu posso falar da minha experiência: não fiz curso de preparação para o parto, teórico, (rrrrrrrr) fiz a preparação aquática para o nascimento, porque optei por um parto na água. No fundo fiz a parte gira da coisa, que consistia em passar 1h na piscina a aprender exercícios, posições e tipos de respiração favoráveis ao trabalho de parto. Foram momentos únicos de relaxamento e cumplicidade a dois, a três, sem dúvida. Gostei, gostámos muito, os dois, os três, estou certa. E no final de contas, acabaram por ser mesmo muito úteis quando estava dentro daquela piscina cheia de contracções à espera que o meu filho decidisse nascer.

Depois do parto tive então o dito apoio domiciliário que consistiu em 3 visitas a casa feitas pelas parteiras: a que ajudou ao nascimento do meu filho e a parteira com quem tinha feito a preparação aquática para o nascimento. Mas o meu parto foi um bocado atípico na medida em que vim dormir a casa, poucas horas depois de ter dado à luz (um dia conto esta história). E neste caso fazia todo o sentido que o restante acompanhamento fosse feito ao domicílio.

Contudo considero que foi importante e acho que podia ser interessante que se começasse a generalizar este tipo de prática. Tenho conhecimento que existem já alguns Hospitais e Centros de Saúde que o fazem, embora não saiba exatamente em que moldes, mas penso que é algo que poderia ser mais abrangente, que pudesse acontecer por defeito e não que tivesse de ser procurado, algo que pudesse ser mais a regra e menos a exceção.

Eu tive a primeira visita domiciliária no dia imediatamente a seguir ao nascimento, a segunda cerca de 5 dias depois e a terceira uns 10 dias depois. Nestas visitas as parteiras prestaram auxílio na amamentação, pesaram o bebé, ajudaram a dar banho, fizeram o teste do pezinho mas sobretudo, estiveram lá, disponíveis para nos ouvir, aconselhar e para falar abertamente deste estado de transição.

O que vejo acontecer, com amigas minhas, em algumas maternidades, no que respeita a este tipo de assitência é muito variável. Conheço casos felizes de profissionais que fizeram um trabalho de excelência com as mães, mas também sei de casos em que esse suporte não existiu. No fundo acho que acaba tudo por culminar na sorte - ou na falta dela - de apanhar as pessoas certas nos turnos daqueles dias.

“Porque é que ele não dorme mais do que 3h à noite?”, “Porque é que ele só dorme de dia e está acordado à noite?”, “Porque é que adormece sempre agarrado à mama?”, “Porque é que não dorme na cama dele?”, “Porque é que ele só adormece ao colo?“, ”Porque é que ele está sempre com fome?”, “Porque é que ele está sempre a querer mamar?” São apenas algumas das questões que passam por segundo na cabeça de uma mãe acabadinha de chegar a este cargo.

Assim o apoio pós-parto acaba por ser complementar e tão indispensável quanto o apoio pré-parto. Vejamos:

-       É após o nascimento do bebé que a mãe está, literalmente, cheia de dúvidas.

-       É quando o bebé começa a mamar que é importante ser visto, por alguém especializado, para assegurar que está a fazer uma boa pega, para poder evitar possíveis dores ou lesões futuras.

-       É quando o bebé chora que a mãe sente uma angústia terrível que se intensifica quando não o consegue acalmar.

-       É nesta altura também que a mãe melhor acolhe reforços positivos de fora, porque às vezes pode não sentir a mesma recetividade no seio da sua família.

-       É nestes dias que há uma privação grande do sono e que a mãe sente o peso do cansaço acumulado, etc, etc.

É claro que nem todas as mulheres vivenciam este momento da mesma maneira, por isso reconheço que as que o não o vivem de forma tão intensa, não sintam necessidade deste apoio pós-parto. De entre as minhas amigas conto apenas duas que dizem não ter sofrido deste baby blues (mas estou certa de que não são as únicas), porém se ele existisse a priori, se calhar também não o rejeitariam. 

Eu senti, assumo pois, uma invicta fragilidade latente, assim como uma mescla de alegria e nostalgia, que coabitavam num mar de emoções, cá dentro, e que muitas vezes desaguaram num choro, e não era de bebé! Mas foi rápido e passou, sabia que ía passar.

Ah e já agora: um café duplo, por favor!

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