Hoje trago-vos este assunto, que em muitos casos assusta muito os pais. Vamos entender então: O que é o refluxo em bebés? Como e por quê acontece? Quando devemos preocupar-nos? É sempre necessário o tratamento?
Quando nos referimos a “refluxo em bebês” estamos habitualmente referindo-nos ao chamado refluxo gastroesofágico, muito comum de ser identificado na faixa etária dos bebés menores de três meses de idade, inclusive e principalmente em recém-nascidos. Esse refluxo gastroesofágico nada mais é do que a passagem de conteúdo do estômago para o esófago, o caminho contrário do que o alimento deveria seguir.
"Mas doutora, como assim?"
Quando nos alimentamos, esse conteúdo entra no trato gastrointestinal, passando pela boca, laringe, esófago, estômago e então seguirá para os intestinos, ocorrendo o processo de absorção dos nutrientes dos alimentos e eliminação dos resíduos. Nesse tipo de refluxo que estamos falando, o que ocorre é que o alimento, ao chegar ao estômago, em vez de seguir o seu caminho habitual, ele retorna para o esófago, podendo chegar até a boca, com o surgimento daí dos sintomas clínicos, sendo os mais comuns o vómito, a regurgitação, a saída do alimento (frequentemente o leite) até mesmo pelo nariz.
E por quê isso ocorre?
Na faixa etária de recém-nascidos e lactentes muito jovens, existe uma imaturidade do sistema gastrointestinal, que ainda não terminou o seu completo desenvolvimento. Sim, mesmo depois do nascimento, órgãos e sistemas continuam a amadurecer nos bebés, eles não nascem totalmente “prontos”! Devido a essa imaturidade, as funções dos sistemas não estão completamente desenvolvidas e, no caso do sistema gastrointestinal, existe uma “fragilidade” que predispõe naturalmente ao retorno do alimento. Outra situação que favorece o refluxo nos bebés é que, nessa faixa etária, a alimentação é baseada no leite, sendo que, por ser liquido, o leite tem uma tendência maior a retornar do estômago para o esófago. Isso ocorre mais frequentemente com leites artificiais do que com o leite materno, visto que o leite materno tem uma absorção muito mais rápida e fácil para o bebé, e permanece menos tempo no estômago, diminuindo a chance desse conteúdo voltar.
Mas, então, se essa imaturidade existe em todos os bebés, o refluxo vai acontecer em todos os bebês? – Exatamente!
Nós, pediatras, chamamos essa condição de “refluxo fisiológico”. Isso vai variar entre os bebés, podendo acontecer não existir qualquer refluxo (o que não é o mais comum), até o desenvolvimento de sintomas mais importantes, quando temos que pensar que pode estar acontecendo o que chamamos de “refluxo patológico” que pode, ou não, evoluir para a chamada “doença do refluxo gastroesofágico”. São nessas situações em que iremos pensar em algum tipo de tratamento ou intervenção. No refluxo fisiológico, não há a necessidade do uso de medicações ou nem mesmo de exames laboratoriais, pois, como dissemos, é natural para a idade e a evolução é ocorrer uma melhoria. O que pode ser feito são as medidas antirreflexo, que incluem:
- sempre colocar a criança para regurgitar (“arrotar”) após as mamadas;
- não deitar nos 30 minutos após a alimentação;
- medidas posturais como elevação da cabeceira do berço;
- dormir no carrinho de bebê, que é mais inclinado, entre outras.
Como então identificar quando não é refluxo fisiológico?
Bom, a grande questão é diferenciar quando se trata de um refluxo fisiológico e quando não podemos mais chamar desse modo. Para isso, ao contrário do que se poderia pensar, não consideramos, por exemplo, o volume dos vómitos e das regurgitações isoladamente. Temos que ter muita cautela também com exames complementares, pois o refluxo patológico não será visto em exames considerados mais comuns. O que permitirá realizar esse diagnóstico é o acompanhamento regular com o médico pediatra, que vai conhecendo o bebé nas consultas e identificando os fatores de risco.
O principal parâmetro que deve ser considerado para o diagnóstico é o ganho de peso, pois se esse ganho é adequado para a idade, podemos considerar que o conteúdo que fica no estômago está sendo absorvido para o crescimento, e o conteúdo que volta na forma de regurgitações ocorre muitas vezes porque está “sobrando”, ou seja, o bebe mamou mais do que cabe no estômago (e o estômago do bebê é bem pequeno!). Mesmo se o bebé não apresentar os temidos vómitos, ele pode ter um quadro de “refluxo oculto” se o ganho de peso não estiver adequado ou se ele tiver sintomas frequentes como, por exemplo, irritabilidade excessiva, que pode indicar que uma espécie de “queimação” pelo retorno do conteúdo ácido estômago esteja ocorrendo.
Desta forma, o mais importante é manter a calma e acompanhar regularmente com o pediatra, destacando que muitas pesquisas atuais tem demonstrado que frequentemente existem mais riscos do que benefícios no uso de medicamentos para refluxo, e sabendo que esse quadro é relativamente comum e transitório para a maioria dos bebés.
Faço o convite também para verem este conteúdo em vídeo, onde falo um pouco mais sobre essa dúvida muito comum que sempre aparece.
Quaisquer dúvidas fiquem à vontade para perguntar nos comentários do vídeo relacionado.
E até a próxima.
Dra. Mariana de Oliveira
Pediatra CRM/SP 150.828
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