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Façam-me um favor, não lhes chamem partos humanizados! Humanos são todos os partos!

Por Inês

Por conta de mais uma trágica notícia com um parto caseiro que correu mal do princípio ao fim e cujas consequências infelizmente foram e continuam a ir muito além da teimosia cega dos pais e de (mais um) crime de uma infeliz enfermeira, eu partilhei a notícia e vai um sururu pelo FB do blog que nem vos digo.

Eu que já ando na blogosfera a virar frangos há muitos anos não me ralo nada com as opiniões inflamadas de mães extremosas. Não somos todas extremosas?! Eu pessoalmente sou cada vez mais vive-e-deixa-viver e se a coisa descamba sou ainda mais "smile & wave", mas este assunto do parto em casa tira-me do sério, o que hei de fazer? Por isso dou de barato que também tire muito boa mãe do sério. É na boa.

Quem segue o eu, mãe vê bem que aqui não há fundamentalismos, há muitas mães, cada uma com as suas opiniões, as suas vivências, as suas teorias e verdades. Eu sou completamente a favor do parto hospitalar e não abdico, a nossa querida Linda, mãe Bio-Lógica (e minha amiga de infância) teve um parto fora do ambiente hospitalar que correu muito bem.

E porque é que eu sou 100% a favor do parto hospitalar e 200% contra o parto caseiro? Há imensas coisas neste assunto que me revoltam as entranhas, mas em vez de bater boca no Facebook, prefiro assentar ideias por aqui. Na minha opinião de mãe e a mais não sou obrigada.

Começa logo pelo nome. Eu detesto a expressão "parto humanizado" - acho que é falaciosa, tendenciosa e muito demagógica. Recuso-me terminantemente a usá-la e foi a única vez que viram a expressão aqui escrita. 

Os dois partos dos meus dois filhos foram feitos em ambiente hospitalar e estavam apenas pessoas à minha volta. E máquinas, uma delas até apitava. Foram por isso menos humanos? Porque tive direito a CTG, a monitorização, a epidural? Até ventosa o meu filho mais velho teve e andei a sentar-me de lado nas semanas seguintes porque levei com uma bela episiotomia. E então? Isso fez com que o meu parto fosse menos humanizado? Não, fui sempre seguida pela minha médica obstetra (que nem estava lá no dia do parto e eu sobrevivi), o meu marido esteve ao meu lado sempre, os enfermeiros fizeram o seu trabalho, o obstetra também, estavam todos bem dispostos, trataram-me sempre muito bem, do primeiro toque (isso também é considerado desumano, não é?) à alta da maternidade.

Humanizado, porquê? Porque se "respeita" a mulher e o filho? Porque não se "traumatiza" o parto? Porque se acredta na mãe natureza e na força da mulher? Porque não há partos instrumentalizados? Isso é tudo muito bonito, de facto gravidez não é doença, mas tem SEMPRE riscos, mesmo que não sejam aparentes. De um minuto para o outro pode tudo correr muitíssimo mal! Acautelar esses riscos não tem mal nenhum, pelo contrário. E isso sim, é respeitar a vida, é respeitar o corpo humano, em toda a sua imperfeição, em toda a sua humanidade. 

Eu acho que o respeito vem das pessoas e dos ambientes, não dos processos e dos instrumentos. Há bons e maus profissionais em todo o lado, os hospitais não são excepção. E entre doulas e parteiras também os há, está mais que à vista.

Por falar em palavras que ofendem, se eu fosse profissional de saúde acharia profundamente ofensivo dizer-se parto humanizado vs. parto hospitalar. É uma ofensa a todos os profissionais que todos os dias vergam a mola nas nossas maternidades a por cá fora bebés uns atrás dos outros. Médicos, enfermeiros, auxiliares que todos os dias assistem a dezenas de partos, a assegurar-se que tudo corre bem. A assegurar-se que o momento mais importante da minha vida seja mais um sucesso no dia deles, e imediatamente a seguir possam passar ao parto seguinte, sem quebrar. Esses profissionais que são apelidados de máquinas e desumanos muitas vezes têm de reparar a asneira que os pais causaram com as suas escolhas e salvar vidas à última da hora! 

Em vez de se andar a teimar a defender partos em casa, que acarretam SEMPRE riscos, em que 5 minutos que seja de viagem até ao hospital podem ser fatais, deviamos lutar por mais pessoal hospitalar, por mais espaço, mais salas, enfermarias melhores, por mais condições nas maternidades, para que todas as pessoas que lá trabalhem não estejam sobrecarregadas de horas e com falta de paciência para momentos tão delicados.

Em vez de andarem a pagar centenas de euros a parteiras, devíamos lutar por salas de partos com piscina, por possibilidade de partos sem monitorização, por acesso a outros acompanhantes que não apenas os pais. Tudo isso num hospital, a um corredor de uma sala de operações. E tudo isto sempre e apenas na medida do POSSÍVEL, sem extremismos, sem últimas consequências. A última palavra ser sempre do médico e não da mãe é fundamental, e devia ser pacífico, por muitos planos de parto que façamos, porque há tanta coisa que nos ultrapassa! E nestas coisas não pode haver teimas, não pode haver extremismo, nós não sabemos mais do que quem está a olhar para a nossa pachunca naquele momento! E a ler um monitor.

Um parto em casa é um retrocesso civilizacional e os resultados estão à vista. Na Holanda, por exemplo, 30% dos partos eram "humanizados" e nunca a sua taxa de mortalidade no parto voltou a ser tão alta, atingindo valores que já não se viam há décadas.

Quantas mães e bebés terão de morrer sem necessidade para que as pessoas metam na cabeça que nascer é tão natural quanto morrer e que é escusado arriscar a nossa vida logo à nascença?

Por quê? Por comodidade dos pais, por filosofia de vida, por acharem que o parto hospitalar é mau? Não é perfeito, é chato, pode correr mal, estamos longe do aconchego de casa, do nosso ninho. Mas a situação é excepcional. É EXCEPCIONAL!!! Um parto é um momento fisicamente excepcional na vida de uma mulher e não pode ser encarado nem de ânimo leve, nem com floreados. É o que é, siga!

E se algumas de nós são parideiras encartadas, outras morreriam no parto, sem dúvida. Todas temos exemplos destes à nossa volta. Eu podia ter 10 filhos seguidos, se fossem todos iguais aos que já tive. As minhas cunhadas não passavam do primeiro. Morriam logo ali, nas suas camas. E felizmente o que restou foi uma cicatriz na barriga e bebés maravilhosos. E com ZERO traumas!!!

Essa é outra, dizerem-me que o parto é traumático e marca toda uma vida?! Só se ficarem com sequelas físicas ou mentais de um parto mal feito, o qual tem maior probabilidade de acontecer se não for feito com acompanhamento médico!

Agora, consequências psicológicas?! Tenham juízo! Acho absolutemente perverso virem com a conversa de "o parto deve ser uma viagem maravilhosa, a psicologia diz que os bebés ficam com marcas do parto para a vida, mimimi..." E o que dizer à mãe que queria um parto natural e teve de fazer uma cesariana para salvar a sua vida e a do filho? Que o seu filho vai ficar traumatizado para a vida? Que ele é menos mãe por não ter seguido em frente? A única pessoa que poderá ficar traumatizada será a própria mãe, se se deixar influenciar por essas balelas. O que se quer é os miúdos cá fora, sãos e salvos! "Se essas pessoas que vêm com essas teorias psicológicas se lembrassem de como se morria antigamente, passava-lhes logo a modernice.", diria a minha avozinha, e não posso deixar de concordar...

Aproveitemos os avanços científicos para proporcionar a todas as mães a escolha, em primeira linha, e a solução, se for caso disso. Sem extremismos, sem modas new age, sem ataques a quem precisa ter apoio para melhor fazer o seu trabalho. Numa maternidade ideal a parturiente estaria acompanhada pelo pai da criança, com acesso à Doula, se a tivesse, com uma enfermeira parteira na sala e a médica obstetra, a sala de operações e a pediatra a uma chamadinha rápida de distância. Com epidural ou piscina (ou outro método certificado para parir) a pedido. Com todo o tempo do mundo para contrações e cesarianas sempre que necessário.

Aproveitemos os avanços científicos para avançarmos enquanto sociedade, não para retrocessos civilizacionais. Disse.

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8 comentário(s)

Simplesmente Ana13 de Julho, 2016 às 14:53:08
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Bem dito! 100% a favor do parto hospitalar. Se gostava que me tivessem permitido andar em vez de estar deitada na cama por causa do CTG? Sem dúvida. Permitir que a mãe tivesse essa liberdade devia ser regra e não a exceção. Mas nunca na vida deixaria o meu bebé às mãos da sorte, pois a mãe natureza pode não ser sábia todos os dias.

Ana 13 de Julho, 2016 às 18:39:53
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O meu foi provocado, acabando com uma cesariana com elidiram, e foi maravilhoso!! 5 anos depois a minha filha não é nada traumatizada, e é uma criança absolutamente feliz, com uma relação óptima connosco. Eu seria das mulheres que não teriam sobrevivido ao parto se não fosse assim, e nem pensei duas vezes... É mesmo isso, o que importa é tê-los cá fora sãos e salvos... O resto são tretas de quem não tem sequer prioridades definidas. Parabéns pelo artigo.

Elsa Máximo13 de Julho, 2016 às 22:07:53
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Olá, gostei muito de ler o seu texto que, de certa forma, não deixa de ser muito acutilante. Compreendo-a quando fala em fundamentalismos, e por vezes tenho dificuldade em aceitar determinadas conceções modernas desprovidas de qualquer tipo de flexibilização no tocante ao se adaptarem os métodos às pessoas e ao que é melhor para a mãe e para a criança. Sou daquelas que, nos anos 30, teria ficado por ali. Um sem número de complicações obrigou-me a proceder a uma cesariana eletiva no hospital público e posteriores problemas, impediram a amamentação. Não deixarei nunca de me revoltar contra os que me desprezaram por não ter amamentado. A verdade é que não ter tido um parto pélvico, nem não ter amamentado faz de mim menos mãe! Revolta-me e é ultrajante saber que o meu Filho passou fome na maternidade porque, simplesmente, as enfermeiras e algumas pediatras não concordavam em dar-lhe leite artificial! Só estava autorizada a dar 50 ml de 5 em 5 horas!!!!! Isto é humano??

Rita garriapa14 de Julho, 2016 às 21:39:04
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A mim o que verdadeiramente me irrita é o fundamentalismo para que lado for! Tenho 3 partos normais em meio hospitalar e o que pedi às obstetras( em quem confiei cegamente ) foi que na duvida me abrissem a barriga! Em relação aos meus filhos não arrisco uma vírgula!!! Não temos país para partos em casa. Ponto final ! Mudar as condições nos hospitais concerteza! Em muitas situações 5 minutos faz toda a diferença e mesmo assim em meio hospital também pode correr mal, mas pelo menos temos as condições para resolver muitas situações !

Tamara15 de Julho, 2016 às 13:04:11
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Que texto sem conteúdo informativo! Que pena isso ser divulgado como se houvesse informação. Não há. Só um ponto de vista muito marcado pela cultura hospitalar. E, diga-se de passagem, muito lugar comum. Existem estudos sérios, revisões e revisões científicas falando da segurança do parto domiciliar. Aí você vem com a "sua opinião" (Oi? Quem é você mesmo?) pra falar que parto em casa é retrocesso. Dá- me como exemplo o seu parto hospitalar, com episotomia, toque e mais sei lá o que como exemplo de parto respeitoso? Que triste! Muito triste por você por ainda estar nesse lugar de "achar" que foi salva pela intervenção do médico, achar que seu corpo não é capaz de fazer sozinho, de achar que toda a luta pela humanização do nascimento é besteira. Desejo-te muita luz e acesso a novas informações com uma qualidade melhorzinha. Até!

Carolina20 de Julho, 2016 às 12:47:40

Boa tarde Tamara. Pode-me indicar os links desses estudos e revisões científicos? Obrigada

Lil03 de Agosto, 2016 às 16:00:02

Tamara, usando as suas palavras "Muito triste por você por ainda estar nesse lugar de "achar" que foi salva pela intervenção do médico, achar que seu corpo não é capaz de fazer sozinho...", pois olhe que no meu caso, se ficasse à espera que o meu corpo reagisse sozinho, possivelmente o parto ao teria um desfecho feliz. E sim, fui "salva pela intervenção do médico".

Filipa04 de Maio, 2017 às 15:54:42
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Penso que está a confundir o conceito de parto humanizado com parto domiciliar. Um parto hospitalar pode ser humanizado.

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