Dizer que a vida não é a mesma quando se tem putos pequenos, é uma evidência. Tão evidente, que até chateia falar sobre o assunto. Mas as pessoas não passam a vida a queixar-se de que “a vida é sempre a mesma coisa”? Então. Isto é preso por ter puto, preso por não ter.
Convenhamos que ter filhos torna tudo mais complicado. Ainda que, pensando bem, ter um cocker spaniel também. Em todo o caso, os putos trazem consigo algumas, digamos, especificidades. A saída de casa de manhã, até à escola, encerra alguma dessas especificidades. Resultado, por exemplo, de uma lista de tarefas questionável - o puto lembra-se, antes de sair, que o puzzle do Faísca McQueen tinha ficado por acabar na véspera, e é uma porra. Ou então decide, precisamente naquela 4ª feira tramada, que não quer comer. Ou que não se quer vestir. Ou faz tudo a 10 à hora. Enfim, aquilo que se pode designar, genericamente, de random shit. Por vezes, surgem dificuldades com o rudimento de traços que identificamos nos adultos. A generosidade, por exemplo, que faz com que o petiz insista em querer levar no regaço dois carrinhos, um peluche (quem disser pelúcia leva!) e mais uns quantos artigos cuidadosamente seleccionados do monte. Ou a insegurança e vaidade, que identificamos em nós próprios, e que faz com o que puto abra um berreiro porque quer levar aquela t-shirt do Mickey, mesmo que lá fora esteja um frio de rachar.
Por esta altura, já o atraso vai em 10 ou 15 minutos, mesmo que apliquem, e bem!, a doutrina parental – largar o ferro todo em cima do puto até acabar com a conversa. Right? Right.
O busílis da questão é quando se começa a complicar tudo com nhonhices. Como não gosto de ferir susceptibilidades serei, como sempre, cuidadoso com as palavras. Voltemos, por momentos, à casa partida: longo desfiar de mágoas e lamentos das pobres mães, desgastadas pelo contínuo cuidar dos pequenos rebentos. As tarefas, o choro, o bolsado, o caneco. Pronto. Juntemos a isto a justa preocupação em conciliar tudo com o emprego, horários e demais obrigações (tenho para mim que a emancipação da mulher, nos dias de hoje, transformou-se em mais um rude golpe para a igualmente de género - é mais uma conversa para depois).
Agora saltemos para a parte em que estão a entregar o puto na escola. O que é que se vê? Exactamente, maezinhas com nhonhices. Elas não vão apenas entregar a pequena Carlota ou o bebé Eduardo. Naaaaaaaaaaaão. Vão fazer terapia com a educadora. Explicar-lhes que a Sidónia ontem teve um ranhito; tossiu umas 2 vezes, talvez 3, durante a noite. Que já diz australopiteco (pela minha saúde! Eu não acreditava!). Que ontem sorriu menos – será que teve algum problema com algum coleguinha? Que o cocó estava um bocado mole – mas ontem a vovó fez bolo lá em casa, não foi amor? Conta à Magui, conta, amor. E é que não saem disto. Enquanto isso, um gajo chega, cumprimenta a educadora, despede-se do puto e baza. Já está. Muitas vezes é preciso pedir licença, porque a mãezinha está a atravancar a porta da sala a falar de uma pecinha muito gira que comprou no outro dia. A educadora, por seu lado, sabe que está em terreno minado – uma palavra em falso ou um olhar mais distraído e a preocupação da mãezinha pode transformar-se em dúvidas ruminativas sobre se “a Xana está atenta a todas as necessidades da Beatriz, ela é uma miúda tão sensível…”. Um perigo.
Então e o tempo?! A pachorra? A malta não tem que trabalhar, horários, cenas? Juro que não percebo. E só não sou mais solidário com as educadoras, condenadas a só ter nome próprio ou um diminutivo, caso este tenha mais de 2 silabas, porque elas tendem a tratar os pais como debilóides, que só servem para mandar recados à mãe e para sorrisos condescendentes, enquanto limpam o bigode de leite “que o pai não viu”, perpetuando os papéis de quem faz e de quem “ajuda”. O que só contribui para uma teoria minha: o pior inferno das mulheres são mesmo as outras mulheres. Ah pois é.
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4 comentário(s)
Muito muito bom!
tão bom :DDD
fantástico!!
Fabuloso!!! "Granda" Pai!!!
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