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Filhos

Consultório de Parentalidade: Teimosia sem fim?

Por Magda Gomes Dias

A questão de hoje é complexa, aqui fica a questão colocada:

(...) Como mãe tento manter-me informada sobre como educar as minhas filhas, sei o que gostaria de lhes transmitir nesta jornada o problema é o caminho a seguir para chegar lá. Desde os conceitos que nos foram directa ou indirectamente incutidos na nossa infância até ao conceito da disciplina positiva (DP), o meu percurso é andar lá e cá, o meu desejo era seguir o caminho da DP a 100% mas confesso que neste momento parece que é uma missão impossível. A minha filha de cinco anos de idade tem-se mostrado uma menina teimosa, impaciente, com dificuldade em aceitar um não, desafiadora e até gozona, responde-nos mal e muitas vezes tenta ser ela a mandar e a comandar as tropas, ela também tem muitas qualidades como é óbvio mas estas atitudes são as que nos estão a dar problemas ;). Eu até compreendo estas atitudes nela, atribuo ao crescimento e ao fazerem parte (por vezes até acho que já está na pré adolescência) a questão é que nós pais não estamos a conseguir dar a volta. Quando ela entra na espiral do comportamento desadequado e acredite que muitas vezes descamba mesmo, só com a maldita palmada é que ela parece acordar para a realidade e tudo entra nos eixos (sei que vou ser trocidada pela palmada mas é a realidade por muito que me custe). Quando isto acontece já tentei a conversa, o abraço, o olhar nos olhos, o perceber porquê, mas muitas vezes tenho a nítida sensação que ela está a perceber o "jogo" e então continua a insistir no comportamento até que na exaustão vem a palmada e tudo acalma, a Beatriz amorosa, compreensiva, bem disposta reaparece logo. Chego a pensar que o problema é mais sério e duvidar que uns conceitos de como educar possam ajudar, chego a pensar que a traumatizei em alguma coisa que não sei qual mas que a afectou profundamente... ou se calhar é tudo normal e só tenho é que esperar "que passe" da melhor maneira para nós. Precisava de uns conselhos, umas palavras, até de uns puxões de orelha se for o caso.

Querida Mãe da M. e da B.,

 
O que me está a tentar dizer é que procura lá ir com calma, com base no diálogo, na orientação mas, na verdade, parece que uma palmada e até um castigo funcionam mais depressa e melhor. Aliás, parece que é mesmo isso que a filha está a pedir. Não tenho nenhuma dúvida que isso funciona, o problema é que dali a pouco tempo é o 'vira o disco e toca o mesmo'... E a leitora pergunta-se: mas se nem com diálogo nem com palmada vou lá, a rapariga tem um feitio, como é que eu contorno a situação?
 
 

1) Soluções rápidas e duradouras não existem. A palmada resolve a situação no momento mas não a evita da próxima vez. Por outro lado, uma palmada fará com que a criança, mais cedo ou mais tarde sinta que a forma de reagir da mãe não é justa uma vez que esta só bate porque é maior e mais velha e não porque tem a capacidade de resolver a situação;

 

2) A palmada afasta a criança de nós - eu sei que me diz que parece que só assim ela acorda. Com a continuidade a filha não vai acordar e sim afastar-se de si e dizer-lhe coisas como 'podes bater que não dói'. Significa isso que a palmada deixa de ser efectiva. Quando chegamos a este ponto estamos perante um jogo de forças. E educar não é um jogo de poderes.

 

3) Com 5,5 anos a filha já compreende muito do que lhe diz e pode torná-la responsável pelos seus actos. Ensine responsabilidade e actue em conformidade. Pode ler mais sobre isso aqui.

 

4) Invista na relação - a sua filha tem uma natureza única. É fundamental para as duas que possa descobrir como é que lida, da melhor forma, com ela. 

 

5) Quando estiverem as duas calmas, e num momento longe das discussões, diga-lhe que precisa da ajuda dela, que há momentos que não estão a funcionar e que gostaria de saber como é que a pode ajudar a ter os comportamentos desejados: ‘Minha filha, isto não está a resultar assim… como é que achas que podemos resolver isto? Conta-me lá!’

 

6) Trabalhe a relação: faço o dia do filho único com as duas filhas: num dia sai com uma e no outro com a outra. Se não for o dia inteiro, que sejam 3 horas. Faça o que elas quiserem - querem ir ao cinema, vão! Quer ir fazer castelos na praia? Força! A ideia é fazerem uma actividade que dê prazer à criança, em conjunto? Um workshop de culinária? Vão as duas.

 

7) Quem é o adulto? Não é a filha, pois não? Isso significa que nós sabemos mais e temos maior controlo emocional. Muitas vezes chateamo-nos simplesmente porque não nos conseguimos acalmar. Da próxima vez veja se há motivo para isso.

 

8) Sabe que quando fica furiosa com a sua filha [tem todo o direito de ficar, logicamente – a forma como fica é que vai determinar o impacto da reacção dela] possivelmente faz com que ela também fique nervosa e que não consiga escolher o comportamento mais adequado? Já pensou nisso?

 

9) E brincar? Já pensou em mudar as ideias da sua filha através da brincadeira? ‘Ora vamos lá ver então quem é que chega primeiro ao quarto para ir mudar de roupa? Claro que vou ser eu porque sou eu que sou a maior’ e deixe-o ganhar, tropece e diga ‘oh assim não vale’ e riam-se! Parece uma tontice mas eles adoram estas brincadeiras.

 

10) E quando ela insistir, mesmo depois de já lhe ter explicado 2 vezes os porquês, olhe para ela de forma séria [e não má], e diga-lhe num tom pausado e claro ‘Olha para mim agora. Quero que saibas uma coisa: quero que saibas que não é porque insistes nisso que eu vou mudar de ideias.’ E continue a fazer o que estava a fazer porque se aquilo que decidiu é justo, não há motivos para mudar de ideias.

 

Conclusão:

Há vários estilos de educação. Se os resumir a 4:

Permissivo

Autoritário

Positivo

Nem um nem outro

 

E o pior de todos é mesmo fazer de uma forma hoje e amanhã de outra forma. Tenha calma – se hoje não correu como desejou, pense como pode fazer da próxima vez e faça. Seja consistente. É disso que os miúdos precisam.

Espero ter ajudado. Depois conte coisas.

 

A Magda Gomes Dias escreve no Mum's The Boss e também pode encontrá-la no seu site, Parentalidade Positiva.

Pode também trocar experiências e aprender com a Magda nos seus workshops, saiba mais aqui, mas desde já aqui ficam as datas e locais dos próximos:

 

Lisboa - A Auto-Estima da Criança [workshop prático com casos reais para desenvolver uma auto-estima equilibrada no seu filho]
Sábado, 11 de Outubro
9,30 - 13,00

Porto
Sábado, 8 de Novembro - A Auto-Estima da Criança [workshop prático com casos reais para desenvolver uma auto-estima equilibrada no seu filho]
9,30 - 13,00

Porto
Sábado, 22 de Novembro - A Questão da Autoridade e da Obediência [workshop prático onde colocamos o tema em prática e onde percebemos que um jogo de poder não nos levará longe. Que outras estratégias, que dicas?]
9,30 - 13,00

 

 

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