O Pedro, desde o início deste mês, está num novo colégio, num novo mundo e com novos amigos, durante as muitas horas em que está acordado por dia. Não estávamos a contar com essa mudança, tão pouco quanto contávamos com os motivos que levaram à saída do anterior colégio.
Fomos apanhados de surpresa e andámos em dias de angústia, telefonemas, planos B, reuniões que entravam pelo jantar e serão dentro, quase todos os dias. Foi mais de uma semana de preocupação para perceber se valia ou não a pena manter o Pedro no colégio lindo onde estava, ou mudá-lo para outro sítio para nos pouparmos à crise em que tinha mergulhado.
Havia nos pratos da balança muitas coisas a ponderar. Os amiguinhos feitos, a manutenção da rotina, o que ele já conhecia como seu. Também aquilo que nós já conhecíamos e as pessoas que conhecíamos e que não queríamos abandonar. O projecto, o local e as condições excelentes. Até o ficar perto de casa! Mas por outro lado, instalou-se uma incerteza grande, um ambiente pesado, muitas incertezas e ónus grandes, provavelmente insuportáveis, sobre todos nós quanto ao futuro da escola e dos nossos miúdos lá.
Todas estas eram preocupações nossas, dos pais. A maior preocupação era o vínculo dos miúdos com as educadoras e dos miúdos entre si, dos grupos bonitos que se tinham formado e que tanta estabilidade e felicidade traziam ao dia a dia dos nossos meninos.
E essa preocupação principal, seria preponderante, seria assim tão decisiva, tão fulcral? A verdade é que eu própria mudei de continente 3 vezes na minha infância e estou aqui sem traumas. Claro que cada mudança tornava-se uma pêra menos doce de engolir e as mudanças felizmente foram todas enquanto éramos ainda bem novos, pois quanto mais crescido se é, mais custa, eu sei. E todas essas viagens, no fim, enriqueceram a minha infância. Eu consigo situar no tempo perfeitamente os acontecimentos meus e do mundo apenas pensando onde estava nessa altura. Na queda do muro de Berlim, estava em Lisboa, estávamos em 89; o Chalenger e o cometa Halley foram em 86, lembro-me perfeitamente, estava na Áustria; o incêndio do Chiado foi em 87, estava em São Paulo, a minha primeira paixoneta platónica de infância foi aos 4 anos, estava no Rio de Janeiro e ele chamava-se Felipe. E por aí fora, tenho imensas, milhares de recordações de infância que consigo situar perfeitamente no tempo porque me lembro da cidade onde vivia. Isso agora é giríssimo de recordar e a minha infância foi muito rica. Mudar de escola não era tão bom, sobretudo à medida que ia ficando mais crescida, mas as mudanças (de língua, de clima, de hemisfério, de início e fim das épocas de aulas) eram muito vincadas, era impossível não notar, não bater.
Será que o Pedro, aos 4 anos, mudando de escola, de colegas, de educadora, iria sentir muito essa mudança, iria sofrer? Essa foi a principal preocupação dos pais que estavam na nossa posição. Como é que vai ser para os miúdos?
Quem fica mais traumatizado com estas mudanças de escola, cheguei à conclusão, são os pais, não os filhos. São eles quem tem de desencantar uma escola que volte a deixá-los descansados, são eles que projectam o futuro, quem se preocupa com os outros, com os seu futuro também. São eles o garante último do bem estar dos seus filhos e isso implica garantir que o sítio onde os filhos passam a maior parte do seu dia activo, seja o melhor possível.
Quando finalmente falei ao Pedro sobre a mudança de escola a sua reacção foi "E quando é que vou conhecer os meus novos amiguinhos?" A resposta dele num primeiro momento deixou-me aliviada, e logo a seguir deixou-me preocupada: "Será que o meu filho é um insensível? Então mas ele não fica imediatamente com pena de nunca mais ver os coleguinhas?"
O meu marido, verdadeiro macho alfa, completamente racional, incisivo e caçador da família nesta situação, voltou a chamar-me à razão: os miúdos, por muito que sintam as coisas, e sentem, por muito atentos e sensíveis que sejam, e são, no fim de contas, são sempre miúdos. São simples nos seus conceitos, não complicam as coisas, aceitam as mudanças, têm confiança nos outros e querem é sentir segurança e amor. Se não lhes passarmos as nossas preocupações, eles não se vão preocupar. Claro que, em vez de dizer ao meu filho "Olha, filho, vais ter de mudar de escola, porque esta agora se calhar um dia vai acabar", pus-lhes as coisas de outra forma "Olha, filho, sabes o que vai acontecer? Vais para uma escola nova, com montes de coisas novas e amiguinhos novos, vai ser o máximo!" Claro que ele não podia reagir de outra forma. Claro que ajudou a sesta da tarde finalmente acabar por conta desta mudança "Sabes, a escola nova é especial para meninos mais crescidos, lá não se vai dormir a sesta (e o que me custou ele deixar de dormir a sesta? Foi terrível saber disto, acho incrível que os miúdos não durmam a sesta até o mais tarde possível, mas enfim...) E até hoje, a sua maior preocupação foi ter ficado sem a natação, é a única coisa sobre a qual pergunta. Este meu filho é uma alma livre e desprendida, encontra agora os antigos coleguinhas com a mesma naturalidade com que está a fazer novos amigos.
As angústias com as mudanças são muitas vezes projecções dos pais e muitas vezes os miúdos reagem mal porque nós estamos mal por fora e lhes passamos uma má mensagem.
Se nós não complicarmos, eles não complicam, é mais uma vez a conclusão. Se nós não ficarmos traumatisados, eles não ficam. Se nós formos um poço de confiança, boa disposição e força, eles vão beber da nossa energia e passar pelas mudanças sem problemas de maior, sem traumas. Claro que há crianças mais sensíveis, mais apegadas, mais intencionais, mas cada vez mais acho que está tanto do mundo em nós. Está tudo em nós, nos pais. É um enorme peso, uma enorme responsabilidade, mas também é bom saber que podemos fazer imenso pelos nossos filhos, que está na nossa mão o grande poder de influenciar o humor dos nossos filhos, a percepção que eles têm das grandes mudanças. Os meus filhos me ensinam todos os dias melhor que ninguém que não há duas crianças iguais, mas também eu aprendo cada dia mais que eles são fruto dos meus comportamentos, mais do que ninguém. Isso é tão assustador quanto poderoso.
O Pedro pulou e avançou e o mundo dele mudou para melhor, acreditamos.
O meu querido miúdo. Em cima, fotografia da querida Marta José, aqui pela tia querida, com casaco e camisa, loja Lamar.
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