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Filhos

Mãe Bio-Lógica | Introdução de sólidos e o início da alimentação complementar

Por Linda Barreiro

E quando chega a altura de introduzir os sólidos e da mãe voltar ao trabalho, o que fazer?

As opiniões sobre a introdução alimentar são diversas e raramente consensuais entre mães, pais, médicos, enfermeiros, pediatras... Sopas, papas, frutas, vegetais... Por vezes a informação é tanta, e tão divergente, que se torna difícil seguir um e um só caminho. Há, no entanto, algumas questões de fundo, que se forem tidas em conta aquando da introdução alimentar, podem ajudar algumas mães e pais a levarem a coisa de forma mais descontraída e relaxada, descomplicando o processo.

Na verdade a rapidez e a pressa que nos é imposta, socialmente, para que os bebés comecem logo a comer de tudo e a fazer refeições completas, é já por si, causadora de stress. Depois se o bebé, por algum motivo, não come logo o prato todo de comida, as expectativas dos pais ficam defraudadas e as angústias são inevitáveis, porque o filho não come nada... Então aquilo que deveria ser um momento tranquilo, para ser desfrutado entre pais e bebé, passa a ser uma situação de ansiedade e de tensão. E não é de todo isto que queremos para os nossos filhos.

Também nesta questão da introdução alimentar tem de existir alguma flexibilidade pois os bebés são todos diferentes e não existem verdades absolutas. Daí a importância do bom senso dos pais no maior/menor cumprimento das regras e metas que lhes são impostas.

Vamos esquecer esterótipos: uma criança com 6 meses, exclusivamente amamentada até então, não tem de começar de um momento para o outro, a fazer todas as refeições e a ingerir um sem número de alimentos para obter todos os nutrientes possíveis e imaginários.[1] Durante o primeiro ano de vida do bebé a alimentação deve ser, tal como o nome próprio nome indica, complementar. Complementar ao leite materno, pois esta continua a ser a sua principal fonte de alimentação e de recolha de nutrientes necessários ao seu correto desenvolvimento. Há uma célebre frase de um pediatra que ilustra na perfeição esta ideia que diz: “food before 1 is just for fun”.

Assim os alimentos podem, e devem, ser introduzidos de forma tranquila e as refeições de leite materno devem, idealmente e sempre que possível, ser mantidas e não substituídas.

Porém é nesta altura que as muitas mães regressam ao trabalho e que, de certa forma, antecipam o início da introdução alimentar. Cada caso é um caso, claro, mas na maioria da vezes não existe essa necessidade. Bem sei que o que preocupa as mães é que os bebés não se habituem logo à comida e que não comam nada quando estas não estiverem presentes, mas os bebés são muito mais espertos do que nós os julgamos. Bebé que mama, por exemplo, não irá sentir necessidade de mamar se a sua mãe não estiver por perto, logo, se for deixado ao cuidado de outras pessoas, o mais normal é que aceite bem a comida e/ou leite dado em biberão.

Posto isto a introdução alimentar pode ser adiada até 1 semana antes da mãe começar a trabalhar (isto partindo do princípio que a mãe regressará ao trabalho aos 6 meses do bebé). Assim, cada alimento deve ser introduzido respeitando a regra dos 3 dias e deve continuar a ser feito daí em diante. Ou seja, a mãe pode já estar a trabalhar e ir fazendo a introdução alimentar em casa.

É também por esta altura que muitas mulheres, principalmente as que não fazem extração de leite no trabalho, sentem o peito mais mole e pensam que têm pouco ou nenhum leite, e até muitas das vezes deixam de amamentar. É normal a produção de leite ajustar-se à demanda, ou à falta dela no caso, pois a mulher regressou à sua vida ativa. Ora isto não significa que a mulher já não tenha leite, trata-se apenas de um ajuste, de uma auto-regulação inteligente do nosso corpo. O ideal é amamentar o bebé, sempre que ele quiser, quando estiver com ele e não ter um horário rígido para o fazer. Idealmente as refeições de sólidos, na opinião dos mais entendidos, deverão ser feitas após o bebé mamar e não em substituição de mamadas. Há relatos de mães que dizem existir maior aceitação dos bebés à comida quando feito sob este formato. Agora que o bebé já come, o tempo das mamadas também já é mais reduzido, por isso não implica qua a mãe tenha de estar tanto tempo a dar de mamar. Por outro lado o leite materno deve, idealmente, ser o único líquido que o bebé deve ingerir, servindo não apenas para o alimentar mas também para saciar a sua sede.

 

A saga da Sopa e das Papas

Os pediatras falam sempre em sopas e em papas e a verdade é que estamos sempre muito talhados para esta dicotomia. Para nós, Ocidentais, a sopa é mesmo uma questão muito cultural e isso está bem vincado desde tenra idade. Todavia o bebé pode começar por comer simples purés de vegetais ao invés de se iniciar logo nas sopas com vegetais misturados. Desta forma o bebé pode ir experimentando um vegetal de cada vez. Basta cozer o vegetal, em água ou ao vapor, e depois reduzi-lo a puré. Finaliza-se com um fio de azeite e está pronto para dar ao bebé!

Por aqui começámos uma semana antes dele completar os 6 meses pois ele já estava a demonstrar muito interesse na nossa comida. Fizemo-lo mesmo antes da consulta com o pediatra e sob nossa conta e risco.

Começámos pela fruta e depois introduzimos uma farinha. Lembro-me que a primeira fruta que demos foi pêra e ele gostou bastante. Comeu logo meia pêra de uma só vez, era um guloso! Depois começámos a introduzir os cereais (sem glúten e sob forma de farinha) e fazíamos uma papa caseira com a farinha e água. Lembro-me que fizemos questão de não misturar logo a fruta com o cereal de tal forma que, cada vez que introduzíamos um cereal, ele comia muito bem no primeiro dia, mas no segundo e no terceiro já não acahava tanta piada... Cá em casa a pasta da introdução alimentar estava do lado do pai, era ele que ditava as regras, e ele não era a favor de se começar logo a dar sabores doces para mascarar sabores mais neutros ou amargos. Assim, tentámos ir criando um universo de sabores diversificados ao bebé, porque acreditávamos estar, desta forma também, a treinar o seu paladar.

Fizemos a introdução alimentar de duas formas: a tradicional e em Baby Led Weaning. Uns alimentos dava-mos à colher e outros inteiros, para a mão do bebé, para que ele pudesse explorar o seu aspeto, textura e sabor (caso quisesse).

Começámos por dar jantar e manter todas as refeições de leite materno, depois introduzimos o lanche e depois passámos para o almoço e para o lanche da manhã. Tudo isto foi acontecendo paulatinamente. Ele só passou a fazer todas as refeições perto dos 8 meses (aqui ainda sem pequeno-almoço). O pequeno-almoço só começou a tomar a partir do ano.

Não sei se esta é a forma correta de o fazer mas connosco resultou. Eu tinha a vantagem de só ir trabalhar aos 9 meses daí que pude fazer tudo mais em slow motion mas o que pretendo transmitir é que o mesmo pode ser feito com as mães já ao trabalho, basta não terem pressa e levarem o processo de forma relaxada.

O nosso filho é um bom garfo. Adora comer e come de tudo o que um bebé vegetariano come. As únicas coisas que ele não gosta são: alface, rúcula e ervas cruas tipo salsa e coentros. De resto, bróculos e couve-flor estão no seu top 5, assim como grelos, ervilhas e favas. Frutas não há uma que lhe escape, ama de coração e come todas as que estiverem à mão. Leguminosas então é um “vê se te avias”.

Acreditamos que a família é a principal responsável pela formação do hábito alimentar do bebé por isso também damos o exemplo. Apesar das nossas refeições serem feitas todas em conjunto (adaptei as nossas receitas habituais retirando as especiarias que usávamos em abundância) se não tenho nada feito para lhe dar e só tiver vegetais cozidos com massa, arroz ou feijão, ele come com o mesmo entusiasmo do que se estivesse a comer um empadão de lentilhas. É uma satisfação vê-lo comer. Pelo menos até aqui tem sido. O que aí vem, não sei, aproxima-se a tão temida idade da anorexia fisiológica, mas até lá vamos ver como corre!

 

[1] Para as crianças que bebem leite artificial a introdução alimentar deverá ser mais precoce porque a riqueza do leite não é a mesma da do leite materno e deverá rondar o 4º mês.

 

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