Blogs do Ano - Nomeado Família
logo
img

Filhos

Mãe Bio-Lógica | Amamentação prolongada e o direito da Mulher à escolha

Por Linda Barreiro

O leite materno é o alimento perfeito para bebés humanos. Contém todas as proteínas, gorduras, hidratos de carbono, minerais e vitaminas necessários ao crescimento humano nas proporções corretas para um bebé humano. Estas proporções ajustam-se ao longo do tempo para corresponder às necessidades do bebé (Davies,1993).

 

Já aqui falámos de pesagens, de mitos e de mais mitos sobre amamentação e hoje trazemos à ribalta um tema um pouco mais controverso e polémico: a amamentação prolongada porque ainda há muitas barreiras, mitos e tabús por derrubar.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses e complementar até os 2 anos ou mais. Sim, a recomendação é que o aleitamento materno siga até no mínimo aos 2 anos da criança, juntamente com a alimentação - que deve ser o mais rica e variada possível - e que se estenda daí em diante, caso seja essa a vontade da mãe e do bebé.

 

Alguns dados importantes

A Europa tem o menor índice global de amamentação em comparação com os restantes continentes. De acordo com um estudo recente da OMS (dados recolhidos em 21 países) apenas 13% dos bebés até aos 6 meses são alimentados exclusivamente com leite materno. Outra pesquisa (feita entre 2006 e 2012) mostrou que apenas 25% dos bebés europeus eram amamentados, contra 43% do Sudeste asiático. A OMS destaca que o índice de amamentação da Europa está muito abaixo do recomendado e as principais causas apontadas pela ONU são a marginalização social, a obesidade, as regras do emprego e as políticas do mercado de trabalho. Se pretenderem obter mais detalhes sobre este estudo espreitem aqui.

 

O conceito de Amamentação Prolongada

Para mim este conceito de amamentação prolongada também é discutível: se a OMS recomenda o aleitamento até aos 2 anos, no mínimo, então deveria ser a partir deste marco que a amamentação seria considerada como prolongada e não a partir do ano como a nossa atual sociedade convencionou. A própria licença de amamentação termina quando a criança completa 12 meses, obrigando a mãe que amamenta a apresentar atestados mensais, passados pela médica de família, provando que ainda está a dar de mamar. Já foquei esta e outras dificuldades que a mulher que amamenta enfrenta no regresso ao trabalho aqui

Deste modo a mulher que decide continuar a amamentar sofre algumas pressões sociais no seio da sua família, amigos, ambiente de trabalho ou simplesmente por parte de diversos atores sociais. Questões como: “Ainda dás de mamar?”, “Ainda tens leite?”, “Isso ainda lhe faz alguma coisa?”, “Ele já não é grande para mamar?”, “Até que idade é que os bebés mamam?”, “Não estás farta de dar de mamar?”, “Não te sentes cansada?” são apenas alguns exemplos de FAQ´s dirigidas à mulher após esta afirmar que ainda amamenta uma criança com mais de 1 ano (e em alguns casos menos até).

A amamentação prolongada em crianças com idade superior a 1 ano é uma coisa bastante normal e saudável em algumas partes do mundo, mas não parece ser muito normal para o Ocidente.

Recordo um episódio de uma foto publicada pela modelo Gisele Bündchen no Instagram, amamentando a sua filha com 1 ano enquanto estava a ser maquilhada, que  gerou polémica em toda a web sobretudo nas redes sociais. 

 

De Alimentar a Amamentar 

Amamentar é muito mais do que alimentar um bebé, é uma ligação que começa no ventre e que se prolonga no peito. São momentos únicos de troca de afetos entre mãe e bebé, uma cumplicidade intradutível, uma simbiose perfeita e uma conexão infinita que fica para o resto da vida.

Os benefícios de amamentar durante os 2 primeiros anos de vida são inúmeros e não é minha intenção estar a enumerá-los aqui um a um, no entanto vale ressaltar que esses benefícios se traduzem quer a nível físico quer emocional não só do bebé mas também da mãe. A proteção ativa, a imunidade, o aumento das defesas e da resistência são apenas alguns exemplos.   

Se não amamentar é uma opção da mulher, que merece todo o meu respeito, a mulher que decide amamentar também deve querer o seu direito de escolha respeitado e levado a sério, sem ter de estar sempre a levar com olhares repressores e abordagens inquisidoras acerca dessa sua decisão.

 

Moralidade: do Sagrado ao Erótico

Porquê que de repente um quadro puro e cristalino de uma mulher a amamentar um bebé recém-nascido, vira uma cena obscena - e quase pornográfica - de uma mulher oferecida, com a mama de fora, se esse mesmo bebé for um bocadinho maior? Porquê que uma mulher que amamente em público é frequentemente confrontada com sussurros alheios de alguns e olhares de reprovação de outros?

Sinceramente a mim choca-me mais ver crianças de 1 ano com chupas e Calipos na mão - como ainda ontem vi - do que ver uma mulher a dar de mamar a um filho de 12 meses ou mais. Mas será que isto só acontece comigo? O que é “o politicamente correto” e “o socialmente aceite”, afinal, e em que bases assentam? Que mal está a mãe que amamenta a fazer seu filho e que bem faz a mãe que compra o Calipo? Já pensaram nisto?

Então por que raio uma mulher, que decida amamentar além do socialmente convencionado, tem de sofrer deste bullying sendo inclusivamente vista como fundamentalista de uma causa natural? Bem sei que existem diversos motivos para não amamentar ou para deixar de amamentar, - todos eles com validade mais ou menos ciêntifica – que cada caso é um caso, cada bebé é um bebé e cada pessoa uma pessoa. Não considero que amamentar - ou não - faça de uma mulher melhor ou pior mãe, assim como acredito que o elo entre mãe e filho vá muito além da ligação do peito. Mas por favor deixem de julgar quem o faz!

 

A nossa experiência de Amamentação

Por aqui amamentei até aos 25 meses e o desmame aconteceu de forma natural, gradual, tranquila e nada traumática para ambas as partes. No seio da minha família nunca senti as pressões de que falo mas cá fora senti algumas e posso enumerar 2 exemplos bem distintos.

Uma vez viajava sozinha de avião, com o meu filho com 18 meses, e ele estava particularmente aborrecido pois tinha sono mas não queria dormir. Ao meu lado estava um casal espanhol com quem o miúdo já tinha travado algum contato anteriormente. Pus o miúdo a mamar para ver se ele acalmava - tapado com uma fralda - e percebi perfeitamente o burburinho do casal a comentar o facto de uma criança tão grande estar a mamar.  

Por outro lado uma vez estava no CC Amoreiras a dar de mamar, devia ele ter uns 7/8 meses, com um avental de amamentação. Passou uma senhora velhinha, na casa dos 70 e tal, e intersectou-me da seguinte forma: “Desculpe, a senhora está a amamentar o seu filho? Olhe que no outro dia vi na TV que uma mãe tinha sido expulsa de um Centro Comercial por estar a amamentar em público. Acho isto revoltante. Amamentei os meus filhos todos e acho que é de louvar quem o faz também. E olhe, não se esconda nem esconda o seu filho, pois está a fazer o melhor por ele e por si. Muitas felicidades.” Bem-haja a esta Senhora!

 

Mensagem para quem - ainda - amamenta

A mensagem que deixo para quem decide continuar a amamentar é a de não se deixarem levar por tudo que ouvem, nem por julgamentos de terceiros, nem deixem que vos convençam do contrário. São vocês - e o vosso bebé - quem decidem quando e como desmamar e qual será a altura certa.

Enquanto a amamentação for vista apenas como uma forma de alimentação e não como um processo de contexto muito mais abrangente que envolve duas pessoas, com repercussões na saúde física e no desenvolvimento emocional do bebé, não chegamos a lado nenhum.

Li recentemente algo muito interessante sobre amamentação prolongada que partilho convosco.

“A amamentação prolongada em algumas culturas denominadas de “modernas” é vista como um distúrbio inter-relacional entre mãe e bebé. Perdeu-se a noção de que o desmame não é um evento e sim um processo, que faz parte da evolução da mulher como mãe e do desenvolvimento da criança, assim como sentar, andar, correr, falar. Nesta lógica, assim como nenhuma criança começa a andar antes de estar pronta, nenhuma criança deveria ser desmamada antes de atingir a maturidade para tal.“

Em harmonia com esta linha de pensamento, o Dr. William Sears, um pediatra norte-americano, recomenda: “Não limite a duração da amamentação a um período pré-determinado. Siga os sinais do bebé. A vida é composta por uma série de desmames, do útero, do seio, de casa para a escola, da escola para o trabalho. Quando uma criança é forçada a entrar em um estágio antes de estar pronta, corre o risco de afetar o seu desenvolvimento emocional”.

Infelizmente estas sábias palavras têm pouco eco em algumas sociedades atuais, de caráter mais individualista, que tendem a acelerar o desmame por considerarem-no como um processo de independência e não como um reforço de segurança, substituíndo muitas vezes a mama por chupetas, fraldas ou outros objetos.    

 

Imagens Loove, um projecto muito bonito e que deixa saudades

Clique na Imagem para ver a Galeria

squareimg
squareimg
squareimg
squareimg
squareimg

Deixe o seu comentário

1 comentário(s)

Raquel Gomes de Pinho18 de Junho, 2016 às 14:44:32
Responder

Muito bom. Infelizmente, tudo verdade.

Publicações relacionadas

Instagram