Ontem, quando isto aconteceu, só me apetecia esquecer tudo, apagar da memória o olhar do meu bebé Miguel dabaixo de água, direito a mim, a ir para baixo como um tijolo. Mas hoje, lembrar o que acontece a tantos miúdos, a tantos pais, pode servir de alerta a tantos outros.
Além dos medos que sempre acompanham as mães de rapazes, a todas as mães, um medo específico que tinha nestas férias era o Miguel e a água.
O Miguel adora água! Beber água, tomar banho, chapinhar nas poças e até o (mais do que) ocasional remexer na retrete. Tem "águia", lá está o Miguel. Por isso, mar e piscina estava-se mesmo a ver que ia ser uma animação. E foi.
O Miguel sai sempre disparado para as ondas do mar e para a beira da piscina. E eu estava sempre a ver a hora em que ele caíria. Entre querer dar autonomia, entre permitir que os miúdos aprendam por si a dominar os medos, a aprender os seus limites, andamos no entanto sempre com o coração nas mãos. Nós deixamos o Miguel solto, mas sempre três passos largos atrás. Ou quatro, ou cinco, que ele é rápido. Vinha uma onda, lá estávamos nós. Chegava à beirinha da piscina, lá íamos a correr. Às tantas ele já sabia que tinha de parar, que não era para seguir em frente assim, sem mais, como fazia no início, mas sempre com muita cautela.
E logo ontem, que andava eu ao lado dele, AO LADO, mas na beirinha da piscina, ele dá um passo em falso e cai de costas, no vazio.
Eu vi tudo. Mesmo ao lado dele. Vi-o a pisar em falso, a rodar sobre si próprio e a cair de costas na água. E vi o que nunca vou esquecer. O meu filho, que estava a um dia de fazer 22 meses (Faz hoje, meu amor querido), a afundar na água cristalina como um prego, completamente imóvel, completamente sem reacção, sem se debater, sem dar luta alguma. Apenas os olhos e a boca muito abertos, com o espanto com que tinha caído, a olhar para mim. Nunca mais vou esquecer essa imagem. Os dois segundos que eu levei a tirá-lo dali foram os mais longos. Eu segui o olhar dele, saltei para a piscina e arranquei-o pela axila, num só gesto. Foram dois segundos, na parte rasa da piscina. Ele ficava ali para sempre se eu não fosse atrás dele, se alguém não fosse atrás dele.
Muito choro depois, ainda a meu piolho eletrónico estava aninhado no meu colo, quietinho, calado. Depois esqueceu, voltou a andar solto, mas ficou a marca, o banho do fim do dia foi anormalmente choroso, estava aterrorizado com o duche...
Ouvimos nos avisos habituais desta altura do ano que os afogamentos de bebés e crianças pequenas podem ocorrer até em água que nos dá pelo tornozelo. Que a reação deles é nula, que simplesmente afogam-se, sem mais. Já tinha visto exactamente isso num menino de dois anitos ao nosso lado, na maré baixa mais calminha. E com o Miguel foi o que foi.
O meu coração ficou uma ervilha e a minha culpa foi enorme. Eu estava mesmo ao lado dele e aconteceu o que aconteceu. Claro que eu fiquei a sentir-me a mais incompetente das criaturas à face da terra, a dar gás e razão às mãezinhas helicóptero, às avozinhas de serviço, a quem isto nunca na vida aconteceria. Ai queres dar autonomia, dar-lhes ferramentas de defesa, deixá-los à descoberta? Então descobre lá um gostinho de afogamento para veres o que é bom para a tosse. Literalmente.
Enfim, foi um momento, mas foi mau. Bastou-me, não quero mais disto, meninos, ouviram a mãe?! Claro que não ouviram, então e o meu ataque cardíaco diário, como é que ficaria?!
Conclusão: acontece, mas é mau. Tenham sempre os olhos bem abertos, mantenham uma distância, mas de segurança, entre a autonomia calculada e a reacção imediata. Realmente esse equilíbrio é muito precário. Apenas mais uma coisa super fácil nisto de ser mãe!
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2 comentário(s)
Eu assisti a tudo, um alerta para os pais: "instagramem" menos e olhem mais para os filhos. Os avós e os cunhados não são responsáveis.
Hahahahahaha, nice try Pedro! Os cunhados sofridos e o "instagramem" denunciaram-te, mas nice try ;) Beijinho!
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