Blogs do Ano - Nomeado Família
logo
img

Filhos

A Mãe fala | Ser inteligente aos 11 anos

Por Equipa, Eu Mãe

Hoje trazemos um artigo especial, talvez uma nova rubrica, em que vocês, as mães que nos seguem, vêm  aqui falar sobre os vossos assuntos. Hoje, aqui fica o desabafo de uma mãe com um filho especial.

 

Sou Mãe. 37 anos. Um filho, rapaz de 11 anos e estudante de uma escola de Aveiro, no 5º ano de escolaridade.

Sempre desejei muito ser Mãe. Ter muitos filhos. Talvez por vir de uma família tipicamente portuguesa, com uma Mãe doméstica, uma Pai militar e ter mais três irmãs. Sim quatro filhas. A loucura de tanta saia, inseguranças próprias da mulherada, cabelos soltos e tranças feitas umas às outras, reinava naquela pequena casa alugada.

Mas afinal o destino deu-me a volta. Não, eu é que quis assim. Afinal quis ser Mãe de um filho só. Sou Mãe de um único filho, rapaz, feliz, meigo, divertido, reguila como só ele sabe ser, respondão e muito, mesmo muito inteligente no verdadeiro sentido e significado da palavra.

Sempre se destacou, este meu filho único. Com 9 meses apenas, já construía frases e frases muito próprias do seu mundo "…dá cá…é meu. O Xico é meu! Mamã gosto de ti!” Sim, o meu filho único verbalizava estas frases aos 9 meses apenas. Gatinhar ou andar não era com ele! Não, o seu mundo eram as palavras, as histórias que lhe lia todas as noites ou os livros de puzzles que comprava no hipermercado. Sempre foi assim. Hoje ainda é assim.

Este meu filho único teve um percurso normal na pré-escola e, antes de entrar no 1º ano da escola primária, já sabia ler ao seu ritmo. Não porque lhe impus o que quer que fosse, não! O meu filho, sentado na sua cadeirinha de madeira rabiscava numa folha de papel os seus desenhos e, quando me via a cozinhar ou estender roupa, perguntava: Mamã como se escreve estendal? Estendal?, mas porque queres tu saber? Diz-me para eu escrever…com 4 anos o meu filho sabia as letras e eu ditava: E S T E N D A L. É assim, mamã? Sim, é! Agora diz-me, como se escreve camisola do papá… e assim por adiante este meu filho queria escrever. Repito, nunca lhe impus nada! Nunca! Mas ele tinha sede de aprender e, ao seu ritmo, sempre! Lá lhe íamos ensinando o que nos pedia para saber.

Na escola primária, no final do 1º período do 1º ano, a professora deste meu filho único pediu para conversar comigo. Estava na hora do menino passar para a 2ª classe, ele não estava ali a fazer nada! Ok, respira fundo Mãe de um único filho. O que fazer nesta situação? Racionalmente optei por não transferi-lo, sabia que ele tinha capacidades mas não tinha as bases necessárias, mesmo com a garantida da professora, da coordenadora da escola e do diretor do agrupamento, não transferi o menino. Não, tudo tem o seu ritmo e o seu tempo.

Sempre se destacou dos restantes meninos, pelo vocabulário rico em sinónimos, adjetivos, frases bem construídas…mas também se destacava por ser um menino normal. Muita brincadeira, muito futebol, muitos pontos na cabeça pelas quedas que dava, muitas calças rasgadas nos joelhos e muitas constipações por correr à chuva nos intervalos da escola. Feliz!

Hoje, este meu filho único não é assim tão feliz. Não. Não o é! É um menino meigo, divertido, reguila como só ele sabe ser, respondão e muito, mesmo muito inteligente no verdadeiro sentido e significado da palavra. Mas ser inteligente aos 11 anos e no 5º ano não é uma coisa boa e gratificante. Não! Este meu filho sofre muito por ser assim. Os colegas de turma e de escola não gostam que ele seja inteligente. Não percebem o vocabulário dele e a responsabilidade que ele tem na sala de aula.

Este meu filho único inteligente, ainda gosta muito de jogar à bola, de andar à apanhada, de correr só por correr, de trazer as calças rasgadas nos joelhos. Mas isto já não se verifica, porque os colegas da turma não querem brincar com o aluno que tira 100% a português, 100% a matemática, 100% a ciências, 100% a história e por aí fora. Não! Se quer brincar não pode ser assim! Não podes ser tão esperto, pá! Deixa-te disso. Dizem-lhe os colegas de turma.

Eu, Mãe de um filho único não sei o que lhe dizer mais. Tu estás certo filho, tu não tens culpa de ser inteligente, ser inteligente é uma mais-valia, não consideres a inteligência como algo negativo. Não! Não deixes de ser assim! Faz o que tens feito! Mas respeita também os teus colegas, eles não sabem o que fazem meu filho! Não te aborreças com eles, está bem? Se calhar eles não percebem a tua inteligência e os Pais deles não sabem explicar-lhes que há meninos como tu, meu filho!

Ser inteligente aos 11 anos não é mau! Mas é difícil, muito difícil para um menino de 11 anos.

 

Partilhe connosco: global@eumae.pt

Clique na Imagem para ver a Galeria

squareimg

Deixe o seu comentário

1 comentário(s)

Mariana11 de Março, 2016 às 14:40:30
Responder

Esta história impressionou-me muito. Desejo a maior da coragem a esta Mãe e a este Filho. Da descrição que aqui fica, parece premente a necessidade de encontrar uma outra oferta escolar... é só a minha opinião de total leiga! Boa sorte!

Publicações relacionadas

Instagram