“Não sei como lidar com a minha filha, é muito refilona e eu fervo em pouca água, quando passamos o dia juntas, estou sempre a refilar.
Nunca quer fazer nada, comer é um castigo e também não dorme sozinha.
Ela tem seis anos, como ela diz se eu nao dormo sozinha porque ela tem de dormir??!!
Se eu falo alto para ela, porque ela não o pode fazer também??
Se eu a mando calar, porque é que ela não me pode dizer " oh cala-te"!!!
Certas perguntas que eu não lhe consigo explicar.
Então ao fim do dia, é birras a traz de birras.
Sei que não estou no caminho certo. Preciso de conselhos.”
Querida Palmira,
Antes de tudo quero agradecer o seu email e a sua franqueza.
Há aqui muito a ser trabalhado e por isso vou concentrar-me no primeiro ponto e que é justamente o mais importante e aquele onde é absolutamente necessário que invista já.
É importante que lhe diga que vou responder-lhe à luz daquilo que acredito ser o melhor para as duas, ou seja, com base na filosofia da Educação e Parentalidade Positiva que tem como base o respeito mútuo entre pais e filhos e, porque esse respeito mútuo existe, os pais não têm necessidade de usar as humilhações, os castigos nem têm de ser submissos ou até negligentes.
Por isso digo-lhe que educar não é um jogo de poder e o que está a acontecer neste momento convosco assemelha-se muito a um jogo de poder. Lembre-se sempre disto quando sentir que está a entrar num braço de ferro: ninguém obedece a ninguém se não se sentir ligado – com um bom vínculo – a outro. Daí que, para mim, a questão da obediência seja uma falsa questão – na verdade estamos apenas a falar em cooperação e respeito.
Como é que explica à sua filha que a pode mandar calar e ela não a pode mandar calar? Não sei se consegue. Do meu ponto de vistas as duas podem pedir que a outra se cale. Está tudo no tom, no respeito implícito nesse tom e no contexto. Esta é a linha [muito fina] que separa o autoritarismo de um pedido normal. A minha filha pode pedir-me para eu me calar porque quer ouvir a TV e eu posso pedir para ela se calar porque estou ao telefone. Tudo está no tom que uso e no que eu sinto naquele momento. Será que eu tenho mesmo de sentir a minha autoridade enquanto mãe ameaçada porque a minha filha me pede para calar? É diferente sentir a autoridade ameaçada de não gostar do tom que eles decidem usar. Ninguém gosta que lhe falem de uma forma ríspida mas a verdade é que nós somos muitas vezes os primeiros a adoptar esse tom. Por isso posso [ e devo] dizer-lhe que prefiro quando ‘falas mais meiguinha’ ou ‘oh, pede lá isso com voz de mel, que soa melhor’. E este pedido vai ser mais facilmente aceite e executado quando, na base, eu tenho uma boa relação com os meus filhos. O vínculo é bom e forte. E ela vai calar-se porque vai perceber que isso é importante para mim, naquele momento. E aos 6 anos já saberá ter auto-regulação suficiente para fazê-lo.
Sabe, muitas vezes não sabemos estar com os miúdos. Há miúdos que são mais difíceis, mais chatos, mais mexidos. É a natureza deles. Passar um dia inteiro com eles pode ser muito cansativo e por isso mesmo é crucial que possamos encontrar coisas para fazermos COM eles. Uma saída de bicicleta, um picnic, preparar a festa dos reis, o carnaval. Nada de os levar a parques temáticos e deixá-los lá para passarem o tempo e gastarem energias quando o nosso objectivo é trabalhar a relação. Como alguém disse, os melhores brinquedos dos nossos filhos somos nós. Trabalhar o vínculo é mais importante ainda quando sentimos que os nossos filhos também querem mandar lá em casa - quando nos damos conta que entramos num jogo de poder. Nessa altura não há estratégia nenhuma que vá funcionar bem e a médio/longo prazo. Aproveite então o resto das férias e deixe-a escolher o que ela quer fazer consigo. E, por favor, procure ter mais paciência. Não lhe estou a dizer para gostar das actividades – porque pode gostar muito pouco – mas se a sua vontade é mesmo ter uma melhor relação com a sua filha, onde ela coopera [e onde a Palmira também coopera] então coloque limites razoáveis e equilibrados, tenha mais paciência, brinque mais, brinque mais com as situações tensas também!. Procure escutá-la e observá-la mais e verá que ao fim de alguns dias [2 ou 3 no máximo] a forma como a sua filha vai estar a lidar consigo é mesmo mas mesmo muito diferentes.
Quanto ao dormir sozinha e ao comer… pode ser que esteja tudo relacionado. Estou muito convencida que sim!
Entretanto adira aqui ao desafio Berra-me Baixo. Tenho a certeza que vai ser de grande ajuda e terá mais dicas pela frente, ao longo de 4 semanas. Não sabe o que é? Descubra tudo aqui. Começa dia 5 de Janeiro!
Magda Dias escreve no blogue Mum’s the boss. Conheça aqui os workshops e como marcar sessões de Coaching e Aconselhamento Parental
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4 comentário(s)
Adorei...às vezes ficamos muito confusas, por alguns especialistas afirmam convincentemente que devemos exercer autoridade inquestionável, mas a sua informação é mais que lógica e muito mais saudável, já para não falar que promove mais a auto-estima deles, que para mim é o único meio de serem felizes! Obrigada!
Uma boa palmada e regras :) as crianças amam regras. Fazer tarefas domésticas e actividades juntas poderá restabelecer a ligação de respeito e cumplicidade :) os filhos têm de admirar os pais para passar a respeita-los :)
Ainda bem que já percebemos que estava a brincar!
Bom dia
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