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Filhos

O Pai Anónimo | O (Admirável) Mundo Novo

Por O Pai Anónimo

Quando têm filhos, os pais ganham, subitamente, acesso a uma dimensão paralela às suas vidinhas tranquilas. É óbvio que a coisa começa ainda antes do nascimento, está claro. Não vamos agora falar em todos os buracos cósmicos, teoremas e bruxedos que é necessário anular. Desde como enfiar o raio da cadeirinha (e escolhê-la, antes disso, chiça) no assento do carro até um gajo treinar a cabeça a contar por semanas e não por meses.

A partir do momento em que o catraio começa a ser gente (nunca antes dos 9 meses!), entra-se no assombroso mundo dos desenhos animados, personagens de livros, tipas que cantam músicas infantis – uma verdadeira praga – e canais de televisão dedicados aos infantes. Do canal Panda já toda a gente ouviu falar, mais coisa menos coisa. Mas juntem a isso o Jim Jam e o Baby Tv (aquela cena é viciante, atenção) e o Disney Channel e o caneco.

Depois aprofundem a coisa em direcção aos programas específicos. Os Caricas (só mais um parêntesis para dizer que são uns tipos de uma fofinhice sinistra), o Livro da Selva, é o livro da seeeelva, o Ruca, enfim. Aqui surgem os primeiros escolhos. Está a dar o futebol, e o puto começa a ramelar a dizer que quer ver bonecos. Estão a falar da última barraca do Sócrates, e o puto quer ver o resto do Dinoman. E quando se ouvem estes desabafos de outros pais, volta e meia sai asneira. Ai agora com a Jacinta lá em casa acabou o noticiário, só dá Panda. Ou então Foi o fim-de-semana todo a ver o Toy Story VIII. Oh meus amigos: o sacana do comando da TV não pertencerá à canalha lá de casa nem que a vaca tussa. Por amor da santa. E se chorares vais fazer barulho para o quarto à vontade. Olha quiessa.

Mas a coisa vai num crescendo de agressividade, esse sim verdadeiramente preocupante. Expliquem-me, por favor, aquela cena dos pais irem não-sei-quantas horas para a fila com um monte de putos (e mãezinhas) histéricos para ver o festival do Panda?! Ou da Violeta ou do caneco?! Eihn?! Ah e tal o Matias vê no tabelete e queria muito ir. Ou a Henriqueta ouviu a Deolinda a falar e só fala nisso. Quê?!?! Perdoem-me, mas está tudo com o juízo a arder. Ou então, que diabo, cerrem os dentes, sorriam e digam que foi o máximo. Toda a gente sabe que estarão a mentir, mas imagino que possam suscitar alguma piedade. Um puto de 3 ou 4 anos só me tira de casa contra a minha vontade para ir ao médico. E é preciso que esteja a caprichar nessa amigdalite.

A versão XPTO? Ir à Eurodisney. M-E-D-O. Gastar dinheiro para ir a uma feira popular megalómana noutro país, cheia de tipos vestidos de gigantones de personagens da Disney. I rest my case.

E não me venham chatear o juízo a dizer que eu sou um desmancha-prazeres. Bem pelo contrário. Vou bem mandado e com vontade a montes de sítios e faço montes de programas com os putos. Mas a logística tem de ser razoável, o preço sensato e o grau de dor parental infligida não pode ultrapassar valores aceitáveis. E estes critérios, garanto, assegura muitos destinos, dos simples aos mais elaborados.

Querem o exemplo final? A sacana da festa de anos. Isso, quebremos o tabu! Chega à primavera e é um pulguedo. Excluindo os amigos (dos pais), a malta lixa parte do fim-de-semana nessa praga. Compra a prendinha e lá vai. Ou então as diversas versões que incluem os pais-vítimas (os do aniversariante) comprometerem-se a auto-flagelarem-se umas horas a tomar conta dos putos enquanto os pais vão dar um giro. Ai que a Carlota vai fazer 3 anos e tem pena se não fizer festinha. Ou o Romeu é super-atento a essas coisas. Agora até já há versão da festa ao sábado de manhã, para que a pastilha não custe tanto a tomar.

Querem fazer? Façam. Mas metam um sorriso nos lábios e digam que é porque querem. É simples, é só experimentar. E depois sofram com gosto. Hom’essa.

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