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Mãe Bio-Lógica | A saga das pesagens e a culpa imposta pela balança!

Por Linda Barreiro

Nunca mais me esqueço a primeira vez que levei o meu filho ao Pediatra. Na altura ele tinha quase 2 meses e só tinha aumentado 500g desde o nascimento. Ui, ui, ui...

O miúdo encontrava-se < P3 conforme nota tomada pelo Sr. Doutor na caderneta. A recomendação imediata foi: dar de mamar com mais frequência, não o deixar fazer intervalos maiores do que 5h durante a noite (nunca o acordei para mamar, mas também não era costume ele fazer intervalos muito maiores que estes) e pesá-lo de 3 em 3 dias durante as duas semanas seguintes, à mesma hora, na mesma balança. E foi logo aqui que começaram a surgir as primeiras dificuldades: nesse dia íamos de férias para Espanha, as nossas primeiras a três, e íamos andar a saltitar de sítio para sítio. Ora, encontrar uma Farmácia para o pesar num dia e depois passados 3 dias era uma tarefa impossível.

Sabíamos que não queríamos ser escravos das pesagens, conhecíamos episódios anteriores semelhantes de pessoas próximas e tínhamos estipulado isso a priori. Sabíamos que o leite materno era o melhor para o bebé, disso não restavam duvidas. Sabíamos que o miúdo estava bem, ambos o sentíamos. Sabíamos que mamava bem, que se mostrava satisfeito após mamar, que enchia fraldas de xixi e cocó com fartura e que obedecia a todos os restantes requisitos para estar a fazer uma correta ingestão de leite. Então por que raio tinha aumentado tão pouco de peso?

E inevitavelmente a angústia tomava conta de mim e as dúvidas surgiam intermitentemente na minha cabeça: “Será que o bebé está mesmo a receber leite? Será que tenho leite suficiente? Será que estou a fazer tudo bem?” Enfim todo um conjunto de questões que assaltam a cabeça de quem acabou de ser Mãe e todas as inseguranças normais deste posto recém-adquirido. Valeu-me sempre o apoio incondicional do meu marido, assim como da Parteira e da Consultora de Lactação com quem tinha feito a preparação para o parto.

Não cumprimos escrupulosamente o esquema que o Pediatra traçara para as pesagens, fizemos a coisa de forma mais espaçada e à medida das nossas possibilidades, sem obedecer de todo a regras de horário e de balança.

Durante as férias o miúdo pouco mais fez do que mamar e nós também pouco fizemos uma vez que a ideia era apenas relaxar a três. E quanto a isso cumprimos todos com a nossa parte. Quanto a Ronda ficou a promessa de lá voltar um dia para a mostrar ao pequenito e descobrir tudo o que ficou por ver. 

No final daqueles dias levámos o miúdo à balança. No caminho para a Farmácia eu levava também a minha ansiedade, estava sempre expectante. Por muito que uma pessoa se tenha informado ou lido sobre o assunto, numa altura destas tudo cai por terra, não adianta!

Chegados à Farmácia aí sim começou o massacre para o bebé: despi-lo em pleno inverno, com um frio de rachar, pô-lo na balança, segurá-lo para o manter quietinho... Enfim... Pobre bebé, não há direito. No fim desses 4 dias o miúdo engordava 120g (acho que nunca tinha engordado, nem nunca mais engordou, tanto em tão pouco tempo), eu ligava ao pediatra a dar conta do sucedido, ele felicitava-me pelo excelente trabalho e tudo voltava à normalidade. A partir daí eu e o Pai acordámos que faríamos apenas pesagens mensais conforme tínhamos inicialmente pensado.

Em conversas com amigas e nas reuniões da Liga La Leche em que participava fui encontrando histórias muito parecidas com a minha e isso fez-me sentir melhor e deu-me ainda mais segurança. Esta parte da partilha e da identificação com pessoas que estão, ou estiveram, na mesma situação que nós é mesmo muito importante, senão fundamental, para quem acabou de ser Mãe. 

Nas consultas seguintes de Pediatria o miúdo continuava com o peso abaixo do normal, ou seja, engordava (mas sempre o mínimo dos mínimos) e nem sequer apresentava qualquer consistência na sua curva de crescimento. Do < P3 passou para o P0 e depois novamente para o P3 e assim foi até ao ano. O Pediatra sempre respeitou a minha vontade de continuar a amamentar, em exclusivo até aos 6 meses, e nunca sugeriu a introdução de nenhum método alternativo ou complementar de aleitamento. Eu sentia que bebé estava bem, estava esperto, comunicava, era atento e astuto e isso para mim era mais importante que qualquer número na balança!

Eu também em criança sempre levei com toda a gente a dizer que era muito magra e sempre comi-como-se-não-houvesse-amanhã! Muitas eram as vezes que ía com minha mãe na rua e ouvia: “Ai ela é tão magra... Ela come bem? Alimenta-se?“ Ao que a minha mãe coitada respondia sempre da mesma maneira: “Sim ela come muito bem.” Depois ainda retorquiam: “Pois mas vocês também são todos magros... Ela não tem a quem sair gorda! E ela é muito alta, deve ser por isso!”... Que tristeza como se uma coisa tivesse de ser compensada com a outra. Naquele tempo ainda era a gordura que era sinónimo de formusura. Isto tudo para dizer que somos todos diferentes uns dos outros e que o mesmo se passa também com os bebés. Cada um é como cada qual.

Na consulta dos 9 meses quando o Pediatra viu o meu filho em pé na sala de consultas, agarrado às coisas de um lado para o outro, ficou espantado. Após pesá-lo e verificar que, mesmo depois do miúdo comer de tudo (e mamar, claro), continuava a engordar umas parcas gramas proferiu: “Eu vou deixar de me preocupar com o peso deste rapaz, ele está super desenvolvido para a idade, ele está óptimo!”

Lições a tirar que gostava de transmitr a qualquer Mãe que tenha ou que esteja a passar pelo mesmo:

  1. Os pesos são médias, são medidas, são valores, são números que, embora se perceba que tenha de haver um padrão para avaliação do desenvolvimento da criança, não passam de uma orientação. Os percentis são medidas/padrões americanos desajustados à realidade dos bebés europeus. Mais importante do que o bebé aumentar o esperado de peso é perceber a forma como o bebé mama, ou seja, perceber se está a haver transferência de leite.
  2. Lá porque o bebé chora muito não significa que tenha fome, os recém-nascidos choram por imensas razões e a fome é apenas uma delas.
  3. Os bebés não são máquinas que têm de ser programadas para perder x % do peso do nascimento, para terem de recuperar na segunda semana e para terem de engordar escrupulosamente 30g por dia. Cada bebé tem o sue próprio ritmo.
  4. Não existe engordar pouco ou muito, existe sim aumentar de peso, por oposição a perder ou manter (que aí sim é importante detetar as razões que estão por detrás). E é aqui que se deve procurar ajuda, nomeadamente de uma Conselheira de Aleitamento Materno (CAM), que se pode encontrar com a Mãe para ver se o bebé está de facto a mamar bem e/ou ajudar a perceber a origem do problema. Mais importante do que falar por telefone é mesmo o encontro entre a Mãe e a CAM.
  5. Só porque o bebé não está a engordar o que é “esperado por lei” não tem que se introduzir logo o leite adaptado. Existem antes muitos outros aspetos para despistar. E é aqui que vejo muitos profissionais de saúde a escorregarem, por falta de informação, ou por outro qualquer motivo.
  6. O leite artificial é um produto da sociedade de consumo e há todo uma indústria por trás de uma lata que nos “vendem” como sendo o melhor para os nossos bebés. Se não vejamos: “Como é que as mães alimentavam os seus bebés antes de aparecer o leite adaptado?”
  7. A maioria das mulheres tem leite, apenas uma ínfima percentagem não consegue produzir leite suficiente (cerca de 3% a 5% se a memória não me falha). Não existe leite mau, só em caso de subalimentação extrema é que há diferença na qualidade do leite. Não há mulheres que têm pouco leite: cada Mãe tem o leite que o seu bebé precisa e adequado às suas necessidades, quer ao nível da quantidade/produção quer ao nível da qualidade. Embora concorde que a parte psicológica possa interferir no processo de produção de leite da mulher e Mãe.
  8. As balanças são diferentes entre si e dão diferentes valores de pesagem consoante uma série de fatores. Os bebés podem apresentar uma variação do peso grande consoante a hora do dia, a quantidade de leite que ingeriram, a quantidade de xixi ou cocó que tenham (ou não) feito antes da hora de ir à balança, enfim tantos que não podem ser analisados isoladamente mas sim caso a caso.
  9. As idas semanais ao Centro de Saúde para pesagens, e as opiniões diversas sobre se o bebé está a ganhar ou não o peso adequado, são um fator causador de stress e de ansiedade. O stress e a ansiedade podem interferir na Mãe que está a amamentar e sobretudo que ainda transporta consigo a fragilidade hormonal de um parto recente. Esta insegurança fará com que muitas vezes esta Mãe se questione se está a fazer ou não um bom trabalho com o seu bebé.
  10. Não devemos ser escravos das pesagens ou então nunca mais se vai a angustia da balança. Temos, sobretudo, de acreditar em nós, sentir essa confiança para podermos continuar uma caminhada que pode, por vezes, apresentar algumas adversidades, mas que no final vale a melhor vitória: a saúde dos nossos pequenitos
  11. Por último ser firmes nas nossas escolhas e não ceder a pressões sejam elas do exterior ou do interior (muitas vezes elas acontecem no seio da nossa família). E aqui coloco no saco todas aquelas frases clássicas que quem amamenta ouve numa base regular: “Ele ainda mama? E tens leite? E o teu leite é bom? E o teu leite só é capaz de o satisfazer? Será que ele não precisa de um complemento qualquer?” Ou então como eu ouvi da minha vizinha uma vez, (mas coitadinha tem desculpa por ser mais velhota): “Ainda dá maminha? E será suficiente? Ah... É que eu às vezes ouço-o chorar de noite e penso: ele não terá fome?”

 - “Nãããão!!!!” Dahhhhhhhh.....

 

Alguns contatos úteis para ajuda especializada no apoio a amamentação:

IBFAN 

Vamos dar de Mamar 

Info Ser Mãe 

Gimnográvida 

SOS Amamentação 

Clínica Amamentos  

O Cantinho do Mimo 

Amamenta Porto 

Centro do Bebé 

Lista de Hospitais Amigos dos Bebés 

Liga La Leche 

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