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O pai Anónimo | A Tempestade Perfeita - A Sequela

Por O Pai Anónimo

Ora bem. Da outra vez, foi para aqui uma chatice pegada. Aparentemente, a minha reflexão despertou a ira e indignação da minha editora (a Ela, Mãe) e de um punhado de fiéis leitoras. Aparentemente, acharam que a coisa tinha um pendor machista chauvinista e assim, tipo, parvo. Nada mais falso. Ora vamos lá então, garotas, do princípio, e bem devagarinho.

A Dona Kiki lamentava-se de lhe terem queimado os sutiens, perante a necessidade de conciliar papéis enquanto mãe, dona de casa, e mulher, vá. Ora essa era parte da tese que defendo. A coisa continua difícil para as mulheres. Somos todos moderninhos, abaixo os muçulmanos mauzões, mas a mulher continua, tal como dizia a Mafaldinha do Quino, a ter um trapo, em vez de um papel, na sociedade. Não viram as notícias por alturas do Dia Internacional da Mulher? Ganham menos no trabalho, gastam mais horas em trabalhos domésticos e fartam-se de levar porrada dos homens. Em todos os aspectos. E sim, também literalmente.

E depois, dizia eu (a ver se desta vez corre bem), nunca a sociedade esteve tão sexualizada. A suposta libertação do corpo da mulher, simbolizada por essa coisa do churrasco de sutiens, descambou numa lógica de mulher-objecto, espartilhada (lá vamos nós) por regras de peso, forma do corpo e outros ditames de moda e beleza. E sexo, muito sexo, implícito ou nem por isso. E aquilo que à partida seria uma era de liberdade e de emancipação foi-se transformando numa ilusão de alternativas: cada um(a) pode ser como quer, mas. E para quem sobra? Para as mulheres, que se vêem constrangidas a serem giras e boas e elegantes de determinada maneira, para além de tudo o resto que também têm de ser.

A seguir, veio a questão da igualdade. Que não pode ser tomada de forma literal. É mais ou menos ponto assente que homens e mulheres são diferentes entre si. Convém, aliás. A igualdade deve ser de oportunidades. Mas esbarra nas tais diferenças, obviamente, que não derivam apenas da organização social.

Tudo isto, digo eu, contribui para a tal tempestade perfeita. Que é como quem diz, juntam-se o papel de mãe, que vem, seguramente dos tempos das cavernas e, antes disso, ou a par, do mundo dos animais, o papel de fada do lar/cônjuge, muito marcado socialmente, e agora o de profissional de sucesso. E é aqui que entra novamente a prosa da Dona Kika. Chamem-me o que quiserem, mas eu também acho que a conjugação destas três dimensões já foi menos problemática no passado. Eu acrescento que o papel actual da mulher enquanto trabalhadora está a tornar-se cada vez mais perverso, e os exemplos abundam. As regras, os horários e a ética são as do mundo masculino tradicional, e há cada vez menos espaço – se existe, de todo – para as mulheres que quisessem ficar em casa. Porque essa opção não é considerada socialmente (que falta de ambição!) e porque, com o valor do trabalho em queda, não há, digamos, graveto.

Quer isto tudo dizer que eu acho que as mulheres deviam estar é na cozinha? Não (especialmente a minha!). As mulheres beneficiaram muitíssimo com a autonomia financeira que o trabalho traz? Sim. Que não é nada certo que o modelo contemporâneo dos papéis de género, apesar das aparências, esteja a levar os direitos das mulheres no bom sentido? Bingo.

E tudo isto porque a Kika falou em sutiens. Qualquer coisa falem com ela. E mais não digo. 

 

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